Um final de tarde (Verão?) numa esplanada. Talvez pela época estival, àquela precisa hora, onde um prenúncio de despedida ecoa no silêncio arrastado das lentas e arfantes sombras do mundo, haja, em cada rosto, a resignação sentida de uma derrota partilhada. Para onde se debruça aquela esplanada? Para o omnipresente azul líquido da terra? Ou para o das alturas? Ou será que se debruça sobre o interior amenizado, talvez pelo cansaço da derrota, daqueles que, sentados, ocupam um lugar, que julgam seu, no mosaico de uma contemporaneidade sempre fugidia? Um entardecer de Verão relembra um comboio que parte (para onde?), numa lentidão demasiado dolorosa, de uma qualquer estação, talvez porque esse compasso arrastado nos relembre despedidas. Eles ali estão. Partilham uma mesa. Cada um a saborear o seu gelado, com sabores diferentes. Sim, para partilhas já chega a mesa. Chegaram há algum tempo. Num passo arrastado. Depois de escolherem os sabores, precipitaram-se sobre as cadeiras, e olham para adormecer o pensamento.
Nesse mesmo momento, de gelados, cadeiras, e de ocasos marítimos, eles caminham sobre a plataforma, de um cimento escurecido, talvez turvado pela dor singular, repetida demasiado pluralmente, de um indesejado adeus. Caminham de mão dada. Numa passada hesitante. Como se a cada passo, se ouvisse um grito lancinante, ensurdecedor, vindo talvez do olhar, que anuncia resignação. Só se resigna quem compreende a derrota. E só é derrotado, aquele que deixa a alma na almofada. São os parentes directos do sim – tantas vezes o proferem, num dizer antagónico ao pensar (coma da identidade!). E ele sobe os dois degraus da carruagem, pousa as malas. E ela permanece, na plataforma, a olhá-lo. Talvez olhe vazio. Os seus olhares interrompidos por incontáveis vultos, que também querem aquele comboio, outros que também permanecem na plataforma, o céu denota-se azul, sim, apesar da estrutura fechada da estação (afinal, é o términus da linha; ou o início), e os vultos que não os deixam sós, sim, são vultos, nada mais, eles não lhes reconhecem substância, apenas querem reencontrar-se num olhar só, ouve-se um apito, demasiado longo, talvez pelo estrépito, talvez por soletrar adeus, primeiro um estremecimento, depois um ténue movimento, que vai ganhando consistência, e a realidade apresenta-se incompreensível ao pensamento, porque, num ápice, a plataforma vazia, no horizonte apenas sombras, e ela só, a olhar para dentro, sobre uma plataforma num crescente de escuridão. Os outros, já lá não estão. Desvaneceram-se. De facto, não tinham substância. A única substância real que ela conhece, nesse momento, é a do vazio. Naquela estação, não houve beijos, longos abraços, dedos que se tocam, nada… Isso é para os filmes! Assim que a marcha se iniciou, nem os olhos se reencontraram mais. Nada! Ela inicia o regresso. Talvez cambaleie, afinal, quem conhece a sua geografia interior daquele momento? Cabeça baixa, uma mão no bolso, a outra segura um objecto (qual?), e o passo incerto de quem só possui pretérito. Quantas vezes na vida apenas temos pretérito? Porventura, vezes a mais…
Nesse mesmo momento, de gelados, cadeiras, e de ocasos marítimos, eles caminham sobre a plataforma, de um cimento escurecido, talvez turvado pela dor singular, repetida demasiado pluralmente, de um indesejado adeus. Caminham de mão dada. Numa passada hesitante. Como se a cada passo, se ouvisse um grito lancinante, ensurdecedor, vindo talvez do olhar, que anuncia resignação. Só se resigna quem compreende a derrota. E só é derrotado, aquele que deixa a alma na almofada. São os parentes directos do sim – tantas vezes o proferem, num dizer antagónico ao pensar (coma da identidade!). E ele sobe os dois degraus da carruagem, pousa as malas. E ela permanece, na plataforma, a olhá-lo. Talvez olhe vazio. Os seus olhares interrompidos por incontáveis vultos, que também querem aquele comboio, outros que também permanecem na plataforma, o céu denota-se azul, sim, apesar da estrutura fechada da estação (afinal, é o términus da linha; ou o início), e os vultos que não os deixam sós, sim, são vultos, nada mais, eles não lhes reconhecem substância, apenas querem reencontrar-se num olhar só, ouve-se um apito, demasiado longo, talvez pelo estrépito, talvez por soletrar adeus, primeiro um estremecimento, depois um ténue movimento, que vai ganhando consistência, e a realidade apresenta-se incompreensível ao pensamento, porque, num ápice, a plataforma vazia, no horizonte apenas sombras, e ela só, a olhar para dentro, sobre uma plataforma num crescente de escuridão. Os outros, já lá não estão. Desvaneceram-se. De facto, não tinham substância. A única substância real que ela conhece, nesse momento, é a do vazio. Naquela estação, não houve beijos, longos abraços, dedos que se tocam, nada… Isso é para os filmes! Assim que a marcha se iniciou, nem os olhos se reencontraram mais. Nada! Ela inicia o regresso. Talvez cambaleie, afinal, quem conhece a sua geografia interior daquele momento? Cabeça baixa, uma mão no bolso, a outra segura um objecto (qual?), e o passo incerto de quem só possui pretérito. Quantas vezes na vida apenas temos pretérito? Porventura, vezes a mais…
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