Uma vez ela leu que a vida de um casal se escreve na cama, a frase
demorou-se nela, chegou a pousar o livro para digeri-la devidamente, anuiu
passado o necessário, de facto era tão verdadeira (“A vida de um casal escreve-se na
cama”), a sua actual circunstância é um
espelho dessa verdade, amarga no presente, por vezes, ansiamos tanto por
mudança, novidade, rupturas, como se implorássemos ao tempo que estugasse o
passo, e numa inesperada manhã, diante da nossa total impreparação, a vida, desdenhosa,
altera-nos radicalmente o viver, da janela do quarto ela olha o possível, nada
onde se lhe demore a vista, ainda menos o pensar, em si levanta-se a memória
com o aroma a café quente, como é distinto o cheiro a café quente comparando
com enfraquecido e inerte aroma a café frio, o perfume do café quente é digno
de todas as manhãs do mundo, há quem diga que Deus bebeu uma chávena de café
quente para se inspirar na criação de tudo, pois, é possível, mas, neste
momento, em pé, ela olha o possível, carros estacionados, a esquálida árvore,
lá em baixo, que se obstina no seu emudecido grito...
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