Caros leitores, bem sei que, há uns tempos, quis terminar esta série da Peida-Sentada com uma trilogia, porém, acontecimentos recentes e, por sinal, imperativos, obrigam a mais esta crónica, assim sendo, fica a promessa de se finalizar esta série com uma tetralogia, mas uma questão já deve pairar nos espíritos dos leitores: que acontecimentos recentes suscitaram tão imperativa crónica? Bom, aqui chegados, creio que o título seja elucidativo (“Adeus, Peida-Sentada”), aos poucos, naquele curral, a Peida-Sentada foi perpassando, às suínas mais próximas, que estava de partida, iria deixar o curral, até ali seu, ninguém transpareceu desgosto com a novidade, tal facto não passou despercebido ao Mocho, no seu elevado ramo, não vá algum dejecto apanhá-lo, e por ali são tantos, que cogitava: saindo do curral, para onde irá a Peida-Sentada sentar-se? Amiúde e em surdina, porcos e porcas comentavam este facto, várias teorias se levantaram para justificar a saída, houve quem apontasse o esfriar de relações entre a Peida-Sentada e a sua adjunta Peida-Sorrisos, todavia, o porco é um animal de memória-curta, a preocupação centrou-se logo na sucessão da Peida-Sentada, quem iria agora dirigir os destinos do curral? O que seria do confessionário instituído pela Peida-Sentada? E as mordomias das porcas mais próximas? Proximidade, num curral, está longe de rimar com amizade, ressalve-se este facto, quem andava num constante vai-e-vem era a peida-platinada, responsável pela contagem e distribuição das bolotas, já aquando do suíno velho e gasto, antecessor da Peida-Sentada, com resultados muito sofríveis, dizia-se que o suíno era taumaturgo na arte da subtracção, daí a sua precipitada saída, não obstante este facto, a peida-platinada continuou com esta pasta no curral, daí a sua azáfama, até pediu o auxílio de um porco-velho, decrépito, que gostava de ir para o pasto passear com vacas-novas, imagine-se o quadro: um porco-velho, decrépito, num pasto, a passear com uma vaca-nova, pois, pior é difícil… Visão dos infernos! Não era só a peida-platinada que andava em azáfama, outras nossas conhecidas personagens rondavam o confessionário da Peida-Sentada, o porco das pernas-arqueadas, com a marca dos dejectos já nas orelhas, sim, esse mesmo, o tal dos grunhidos pelas costas, até hoje há quem aguarde que grunha de frente, mas um suíno é só isso mesmo, um suíno atolado em trampa, o porco-espanhol (espanhol e porco, pior combinação é impossível) em contactos múltiplos a babar-se por uma promoção, houve quem o avistasse, nas mais recônditas zonas do curral, em grunhidos baixos com porcas que se perfilavam como putativas candidatas na sucessão da Peida-Sentada, de facto, este porco-espanhol não queria, de forma alguma, largar o confessionário, mas também havia as porcas já instaladas que impassivelmente aguardavam pela sucessão, as nossas conhecidas: porca dos dentes-de-esquilo, tudo igual, imunda das patas à língua, a peida-varizes, uma porca deveras dissimulada, cada vez mais larga, a porca-da-índia, dizem que perdeu toneladas, embora os intestino continuem próximos da boca, a peida da bata-branca, a tal acéfala que queria ser doutora, onde, num curral, alguém pode almejar uma incólume bata-branca? Pois, só uma suína para tal pretensão, o porco-da-bolsinha, com a desculpa de uma pata ferida, encostou-se a um canto do curral, dizia-se que estava farto da chafurdice, ainda houve o regresso da porca cujos quadris davam para alimentar toda a indústria salsicheira, agora envergava um fato-de-treino, uma porca rotunda de fato-de-treino, outra visão dos infernos, de facto, não havia lugar mais próximo daquele curral, começou a correr o boato de um porco-albino para suceder à Peida-Sentada, embora, por ali, quase todos os porcos fossem castrados, como esse albino, talvez fosse mais um boato, também houve quem afirmasse que a queda da Peida-Sentada se devesse a um notório excesso de tramoias, pois, quem sabe? Recorda-se o leitor da amizade da Peida-Sentada com uma Vaca-Estéril que, para compensar a sua secura, adoptara um casal de porcos-pretos? Mais uma extraordinária combinação: uma Vaca-Estéril com dois porcos-pretos! A verdade é que, passado todo este tempo, a porca-preta deambulava pelo curral da Peida-Sentada como se um domínio seu, embora pertencesse de outro curral, houve quem não ficasse muito agradado, as bolotas já eram escassas, a única coisa ali vasta é a imundície, em verdade, a Peida-Sentada vê-se confrontada com os factos da vida: ninguém irá sentir a sua partida, para alguns, a porca já vai tarde, para outros, nunca devia ter assumido o curral, mas uma lição a suína leva: há portas onde nunca devia ter chegado o seu fedorento focinho!
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