Já
passaram três dias, não sei o que hei-de fazer, meu filho, meu querido filho,
nem se levanta, é estranho, caiu num torpor, o estore para baixo, o quarto num
negrume, rejeita qualquer alimento, a voz sai-lhe arrastada, apenas o nome dela
nos é inteligível, maldita seja! Ainda há uma semana, ele em sorrisos, mais
esbatidos, é certo, ainda assim em sorrisos, logo que o via (“Chegou a minha alegria!”), abraçava-me sempre, meu filho, meu querido filho, como quando era menino,
embora, para uma mãe, os filhos nunca vão além da meninice, só o facto de
estar, enchia a casa, há quem tenha esse dom, falava-me dos projectos, dos
sonhos, dos anseios, e, é verdade, o nome dela omnipresente, Madalena, sempre
que proferia Ma-da-le-na, os olhos numa claridade primaveril, a voz amenizava,
talvez por soar mais melodiosa, Ma-da-le-na, todos sabíamos, melhor dizendo,
aqui em casa todos receávamos que se não proferisse Ma-da-le-na, o seu olhar
turvar-se-ia, foi num repente, sabe como é, as coisas marcantes na vida
ultrapassam-nos a imaginação, m as deixe-me recuar um pouco, para que possa
compreender melhor a claridade primaveril, no olhar, sempre que proferia
Ma-da-le-na, após três anos de namoro, ela simplesmente disse-lhe não sentir o
mesmo, como um vento que inopinadamente muda de direcção, o resto é o habitual,
palavras de circunstância para confortá-lo (”Foste muito importante para
mim. Nunca te hei-de esquecer. És
especial… Mas já não sinto a mesma coisa…”), a incredulidade tem o benefício de anestesiar, quando entrou, há uma
semana, com uma sombra no rosto, o sorriso em passos de timidez, o meu coração
soou-me os alarmes, nós, mulheres, temos essa vantagem, poucos homens o sabem,
o nosso coração vive no mesmo andar que a razão (...)
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