Há uns
dias, ouvi de alguém a seguinte frase: “Receio
por si após terminar o livro”, pois, e eu
terminei o livro, compreendi a frase, inteligente, sopesada, a sua amplitude
pelo contexto, mas, repito, terminei o livro, e a questão maior levanta-se-me:
E agora? E agora? Mais de seis meses nisto, escrever, corrigir, reler,
reescrever, apontamentos, notas, reflexões, de novo, escrever, corrigir, reler,
reescrever, por fim, o mais desejado e simultaneamente o mais doloroso,
despedir-me, como se dissesse adeus a um familiar próximo, lá vai seguir o seu
caminho, ser alvo de múltiplas interpretações, algumas tacteiam o que ali verti
de mim, outras distantes, nem pelo horizonte do que por ali testemunhei,
contudo, nem ouso uma correcção, não tenho esse direito, de facto, ninguém o
tem, direccionar uma interpretação, espartilhá-la, velho e sabido, cada um
acede à obra com a sua ”chave”, daí
haver tantos livros quantos os seus leitores, filmes quantos os seus
espectadores, neste momento, acredito que o meu caminho se fez do mundo para
mim, como se fosse recolhendo tudo o que estivesse largado por aí, para,
finalmente, regressar-me, de livros já não falo, quem me ensinou a folheá-los,
caminha há muito por outras paragens, de filmes também não, percebi que os meus
horizontes têm outras colorações, houve uma altura onde ainda um esforço para o
diálogo (“Já viste o último filme do… No último Sábado, vi um filmão… Nem
imaginas… Devias ver o…”, hoje, nada
disto, vejo, analiso e calo-me, é o melhor, o restante não vale a pena, sinto,
de dia para dia, um decréscimo de essências, enquanto vazios se multiplicam numa
ferocidade vertiginosa, numa ameaça patente de tudo tomar, chamo-lhe o “Coro
dos Tempos”, cada época tem o seu, por
norma, quase todos procuram juntar-se-lhe, num receio claro de que a sua voz
não ecoe, não seja aceite e reconhecida, como sempre me dei bem com a minha
voz, não me interessa vê-la associada a outros timbres, daí esta coisa que me
acompanha os passos de ser avesso a aglomerados, há uma questão essencial a que
nenhum homem devia fugir, eu, há uns dias, resolvi olhá-la, sentar-me diante
dela, compreendi-a na sua essência, daí saber que jamais lhe poderia responder:
“Qual foi a última vez que foi para a rua jogar à bola com os amigos?” A questão encerra, em si mesma, a tristeza
(ou felicidade?) da ignorância: o desconhecimento de ser a última vez! Não me
lembro, duvido que alguém se recorde, da última vez que procurou pedras para
demarcar as balizas (…)
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