Não
diria que ele recebeu a notícia, diria antes ter recebido a confirmação, não a
estranhou, manteve-se sereno, imperturbável, não, não creio que representasse,
não havia necessidade de tal, nem tinha nada a provar, lágrimas só nos olhos
do médico, bom sinal, muito bom mesmo, ainda vestígios de humanidade por ali, apenas
uma questão (“Quanto tempo tenho?”), justa, devida, afinal, um direito seu (“Quanto
tempo tenho?”), a resposta hesitante, tímida, envergonhada (“Uns meses…”),
enquanto respondia olhava os sapatos, ele, pelo contrário, olhava-o de frente, quase
em desafio, quando ouviu (“Uns meses…”), ficou algures entre o alívio e o
terror, sentiu-se a caminhar na orla de um precipício…
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