Num entardecer (seria Verão?) ele
regressa a casa pela concorrida estrada litoral. Pelos vidros abertos, entra um
apelo marítimo. Não lhe resiste. Pára a viatura, descalça-se, e sente a areia
antes de a pisar. Afinal, ver é sentir… No ar respira-se fim. Agora, caminha ao
sabor da lentidão do momento. Olha à sua volta. Uma criança corre sob o desvelo
materno. Ri o riso da infância: sonoro, espontâneo, vivo. À sua direita, uma
jovem mulher sentada olha o mar, numa imobilidade pensante. Um rosto de
saudade. Alguém que amou? Sim, talvez isso. As mãos nos joelhos. O olhar absorto
no horizonte. Sim, ela está longe. Mas a distância advém do tempo. E essa é
sempre a mais longínqua. Agora, ela compõe uma madeixa, no gesto possível do
feminino, que a brisa descaíra. Ele memoriza-lhe o rosto. Uma beleza serena. A
única que demora a vista. Agora, à sua frente, passam dois sujeitos a correr. O
indizível do esforço grita-se-lhes no rosto. Talvez percepcionem que a meta
seja distante.
O sol, agora, pousa nas águas. Neste
momento, ele sente a frescura revigorante líquida sob os pés. Não avança mais.
Respira fundo. Fecha os olhos: como se fosse uma exigência do sentir. Não,
sentir é uma outra coisa. Só se sente com a distância. Mas ele, neste momento,
apenas fruía o instante. O revigorante e contínuo abraço das águas. Algo o
despertou. Talvez o apelo do lar. Talvez um grito da criança. Talvez o receio
de se perder em si…
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