A
última vez que o vi? Bom, foi há umas semanas, fomos lá a casa, e, não sei porquê,
achei-o ainda mais calado, à superfície apenas a circunstância, pouco mais, a
minha cunhada sempre aquém desta realidade, com ela as palavras
circunscreviam-se a bibelôs e cortinados, o mais ser-lhe-ia inconcebível, no
fundo a vida é isto, dois estranhos a viver sob um tecto durante décadas, ele
apercebeu-se do erro já tarde, demasiado tarde, acreditava no destino, e,
durante muitos anos, aceitou-o, até deixar de o suportar, repare nisto: todos
os seus actos foram de uma extraordinária lucidez! Não admito outras
conjecturas acerca do seu comportamento! Nem tão pouco juízos de valor! Creio,
sinceramente, que ele entrou numa espiral de desencanto, haverá coisa pior?
Numa dolorosa lentidão, foi deixando, deixando, deixando, o exterior, para se
refugiar em si, mas esse era, de facto, o lugar menos recomendável, os seus
telefonemas tornaram-se esparsos, claro que, visto daqui, tudo se compreende
melhor, infelizmente é sempre assim, não é verdade? A distância, pois, a
distância, clarificadora, fria, indiferente, aqui chegados, o que nos resta?
Reescrever a geografia de uma alma? Meu irmão já cá não está, de que adianta?
Concordo, falar aquieta a dor, mas, por outro lado, penso, não sei porquê, para
ele só havia um caminho, à luz do agora parece fazer sentido, não sei se me
compreende…
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