Acabo de
terminar a chamada e ainda perdura em mim a voz, melodiosa de esperança, da minha
filha mais nova “Domingo, não queres vir almoçar cá a casa connosco?”, acho
espantosa a sua inextinguível capacidade de perdão, depois de tudo, sento-me na
cama e olho a fotografia, talvez ali propositadamente colocada, na
mesa-de-cabeceira, pela minha mãe, nós os quatro, sorridentes, como não podia
deixar de ser, foi no casamento de um primo dela, as miúdas bem mais novas, é
natural, passaram doze anos, e parece que foi há pouco, talvez anteontem, doze
anos, meu Deus (levanta-se-me, de imediato, uma velha e cansada questão: Quando
perdi o tempo?), contudo, se atentar bem, tanta coisa passou, os sorrisos
daquela foto esmoreceram, o casamento do primo também, tal como o nosso, e por total
culpa minha, agora que olho para isso, desta distância, ainda a voz, melodiosa
de esperança, da minha filha mais nova (“Domingo, não queres vir almoçar cá a
casa connosco?”), continuo sem perceber muito bem se errei, porque, de certa
forma, não, minto, se me fosse concedida a possibilidade de retornar no tempo, sei
que daria exactamente os mesmos passos, não há como lhe fugir, com todo o sal
que daí brotou, em mim e nos outros (...)
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