Sempre assisti aos risos, sobretudo dos outros, como
se de uma ilha, talvez mesmo de um continente longínquo, como se aquela
realidade, o riso, constituísse, em si mesma, uma obscenidade, porque o nosso
destino é o silêncio, mas enquanto para aqui andamos, sempre esta insistência
no barulho, no movimento, por norma excessivo e inconsequente, talvez porque o
pensar estagnado na ilusão que nos querem crer o mundo, mas, hoje, pensei na
frase do adeus ao aqui, que palavras
irei proferir quando já não for uma voz, tantas e tantas frases escritas, qual
seleccionarei? De repente, cai-me uma evidência com uma luz demasiada, a minha
frase do adeus ao aqui será aquela
que nunca escrevi, acho o mais sensato, se já aqui não estou, porquê insistir
numa forma de adeus, tantas e tantas
palavras gravadas na pedra, umas grandiloquentes, outras sob um véu de
simplicidade, mas a espreitar a porta da eternidade...
Livros do Escritor
domingo, 30 de setembro de 2018
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
domingo, 23 de setembro de 2018
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
sábado, 15 de setembro de 2018
Regressar
Setembro chegava e consigo trazia
algo de funesto, ela nunca soube concretizar o quê, se o regresso ao trabalho,
a escola dos miúdos, o encolher dos dias, a partida do calor rumo a outras
paragens, o chão cobrir-se de folhas enquanto o olhar com um horizonte de
esquálidas ramagens, contudo, para ela, Setembro sabia-lhe a inquietude, tudo
num regresso ao lugar embora o seu há muito perdido, ainda há uns dias, em
lugares da infância, um pouco de paz pelo seu sentir, a expressão aligeirada,
talvez por não olhar a memória ao longe, passavam cerca de duas semanas por
ali, nos dois últimos anos, as miúdas mais inquietas, com reivindicações de
toda a ordem, o nada para fazer, ela
ainda em argumentações, estéreis, diga-se (Mas
que mal tem? Descansem!), porém, as filhas em uníssono (Descansem?! Sinceramente! Mas somos algumas
velhas ou quê? Todos os nossos amigos vão de férias para sítios espectaculares,
pois vocês enfiam-nos sempre neste fim do mundo), ela ouvi-as perplexa, mas
havia um ponto que não podia tolerar, aquele jamais seria o fim do mundo,
quando muito, seria o início, pelo menos, para ela, sim, sem qualquer dúvida (...)
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
terça-feira, 4 de setembro de 2018
Etc…
Acabo de
terminar a chamada e ainda perdura em mim a voz, melodiosa de esperança, da minha
filha mais nova “Domingo, não queres vir almoçar cá a casa connosco?”, acho
espantosa a sua inextinguível capacidade de perdão, depois de tudo, sento-me na
cama e olho a fotografia, talvez ali propositadamente colocada, na
mesa-de-cabeceira, pela minha mãe, nós os quatro, sorridentes, como não podia
deixar de ser, foi no casamento de um primo dela, as miúdas bem mais novas, é
natural, passaram doze anos, e parece que foi há pouco, talvez anteontem, doze
anos, meu Deus (levanta-se-me, de imediato, uma velha e cansada questão: Quando
perdi o tempo?), contudo, se atentar bem, tanta coisa passou, os sorrisos
daquela foto esmoreceram, o casamento do primo também, tal como o nosso, e por total
culpa minha, agora que olho para isso, desta distância, ainda a voz, melodiosa
de esperança, da minha filha mais nova (“Domingo, não queres vir almoçar cá a
casa connosco?”), continuo sem perceber muito bem se errei, porque, de certa
forma, não, minto, se me fosse concedida a possibilidade de retornar no tempo, sei
que daria exactamente os mesmos passos, não há como lhe fugir, com todo o sal
que daí brotou, em mim e nos outros (...)
sábado, 1 de setembro de 2018
... ficámos a ver os últimos vestígios de luz no horizonte, umas pinceladas de laranja que irrompiam do cinzentismo generalizado, as águas espelharam avidamente cada resquício de luz, como se sedentas de cor antes dos braços da noite, nós ali ficámos a assistir emudecidos e gratos àquele final...
in Deslumbramento
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