Muitos leitores têm questionado o destino dos porcos do curral da Peida-Sentada. Aqui chegados, pensámos abrir uma série: “As aventuras da Peida-Sentada”. Mas após a necessária reflexão, concluímos que uma porca não tem dignidade para ser protagonista de uma série, pelo menos, a Peida-Sentada. Contudo, resolvemos responder a algumas questões dos nossos sequiosos leitores: O que sucedeu ao porco baixo, de pernas arqueadas, com a trampa marcada até às orelhas, que grunhia alto na ausência dos outros? E a porca dos dentes-de-esquilo? E o que é feito da própria Peida-Sentada? E da sua primeiro-ajudante, uma suína mais nova, que no focinho ostenta quase sempre um sorriso? A porca, de nome Peida-Sentada, após livrar-se dos indesejáveis, ou seja, de todos que se opunham à sua ascensão, julgou-se tranquila, porém, havia, pela quinta, quem se opusesse ao facto de os destinos da mesma estarem nas patas da porca, no curral reunia um quase consenso, afinal era uma requintada suína, contudo, no galinheiro, por exemplo, havia quem discordasse da chefia estar nas patas da suína, no estábulo havia divergências, mas o destino do gado estava nas patas e chifres de uma Vaca-Velha, estéril, que adoptara um casal de porcos-pretos, nem por acaso, a porca-preta ainda estava no curral da Peida-Sentada, por conseguinte não foi difícil o entendimento entre a Vaca-Velha, estéril, e a porca, de nome Peida-Sentada, para que os destinos da quinta estivessem nas patas imundas desta última. A primeira medida da Peida-Sentada foi oficializar o “confessionário”. Perguntar-se-ão os sequiosos leitores: o que será o confessionário da Peida-Sentada? Todos os porcos e porcas, do curral, estavam convidados a contar-lhe tudo o que por ali se passava, sim, velha e cansada forma de controle, todavia, os porcos não têm uma memória prodigiosa, assim sendo, com a necessária discrição lá iam, um a um, ao confessionário da Peida-Sentada, todas as alarvidades eram permitidas, embora alguns porcos estivessem estranhamente escudados, como a Porca dos dentes-de-esquilo, a essa tudo era permitido, costumava ir com os leitões visitar os prados em volta, às vezes deixava-os por lá, expostos aos múltiplos perigos da natureza, e regressava ao curral sozinha, misteriosamente passava incólume a todas as tropelias, continuava a grunhir mal de tudo e todos, o Mocho, neste entretanto, subira um ramo, o cheiro emanado pelo curral tornara-se pútrido em demasia, aos finais de tarde, do seu ramo, o Mocho continuava a assistir às frequentes reuniões do porco baixo, de pernas arqueadas, com a trampa marcada até às orelhas, que grunhia alto na ausência dos outros, com a Peida-Sentada, até fingiram zangar-se, mas nada passa despercebido ao Mocho, logo agora, que subira um ramo, de facto, o porco baixo, de pernas arqueadas, com a trampa marcada até às orelhas, ficara com um melhor lugar na pocilga, após cumprir com o trabalho sujo a que se propôs, só ali grunhia, como aqueles cães que só ladram atrás de um portão, se ousasse grunhir fora do curral, sabe muito bem como acabam os porcos, temos de introduzir mais três personagens para sermos elucidativos, com os nossos caros leitores, sobre o actual contexto do curral, desse modo ficam com uma visão transversal do mesmo, há um porco-velho, costuma ostentar uma bolsinha ao pescoço, talvez seja onde guarda a sua garrafa-de-azeite, descontente com a sua situação no curral, numa constante maledicência, só mais um com essa praxis, ameaça retirar-se, os restantes porcos até agradeciam, preocupa-se com a sua quantidade de ração, embora já não tenha dentes para a mesma, é claramente um suíno, embora possua um cérebro de jegue, estranha combinação, quando confrontado com a sua inata burrice, cala-se, mas não esquece, apenas mais porco apreensivo com a sua quantidade de ração, pouco mais, há uma suína que só nos últimos tempos, com a partida dos indesejáveis, começou a grunhir, uma Porca-Velha, gorda, de patas curtas, costuma ficar responsável, anualmente, por um grupo de leitões, as patas, apesar de curtas, parecem mapas de estradas, tal infinidade de varizes, mais um paradigma do curral, aquando os outros deixam uma sombra, lá começa esta porca a grunhir e a destilar fel, não é raro vê-la opinar sobre a vida alheia, talvez por isso não tenha tempo para fechar algumas das incontáveis estradas das suas patas, apesar de curtas, diz-se que estudou mapas, mas perdeu-se a contar as estradas das suas patas, por fim, não podemos deixar de destacar um porco que teve uma ascensão meteórica no curral, há quem diga que chegou de Espanha, porco e espanhol: pior é difícil; conseguiu ficar responsável pelos horários das rações, importante cargo no curral, de facto, só num curral tem relevância o horário das rações, é um porco gago, nem grunhir direito consegue, não olha de frente, é normal para quem não está habituado à luz, embora se considere digno de figurar numa embalagem de salsichas, se ao menos grunhisse direito… Enfim, após estas linhas subsiste uma questão: o que há de novo no curral da Peida-Sentada? Em verdade, nada! Apenas o acumular de dejectos expelidos pelos suínos. E o facto de o Mocho ter subido um ramo! O cheiro, caros leitores, é inenarrável. Não consigo descrevê-lo…
Pedro de Sá
(06/02/22)
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