Que horas são? Há quem lhe chame
tarde. Porquê, pensava ele, se talvez ainda lhe fosse cedo. A seu lado, o
banalizado aparelho rectangular, assim que lhe toca, as luzes, embora nunca
achasse a graça que outros lhe consagravam, ao ponto de toda uma nova
mitologia, reconhecia-lhe, sim, apenas utilidade, com a dificuldade do novo,
escrevinha qualquer coisa (Como estás?),
e o botão do destino cumpre-se. A seguir, senta-se, e no horizonte a espera por
uma esperança que se ilumine. Ainda demorou o tempo do muito pensar, até que Como queres que me sinta? A resposta
tornada questão, uma estranha metamorfose, como se sem tempo para a pausada
respiração da natureza. No fundo, a resposta não o surpreendeu. Só sucede
quando se desconhece, por inteiro, o emissor. Que lhe podia dizer? Enquanto
procurava articular palavras que possibilitassem uma frase, o sentir sempre
longínquo do verbo, o polegar demasiado diminuto para o oceano que lhe oprimia
o peito, ainda assim, o botão do destino a cumprir-se, enquanto se lhe dissipa
do horizonte de um ecrã a frase Não sei. Apenas
isso: Não sei. A ampulheta dera a
volta, de novo, a espera em si. Entretanto, reanalisa a sua resposta, do
ridículo ao profundo, observa-a com todas as roupagens. Mas como fugir-lhe? De
facto, não sabia. Até que a luz Sabes bem
o que eu desejava… Ele a compreender a distância de um desejo. Como é
longa! O que responder à distância? Haverá alguma resposta? Talvez a mais
simples, ou seja, a verdade na forma de um eco suspirado. E o desejo dela já
viajante cansado, ele espreitava-o da janela, mas nunca descera para lhe abrir
a porta, de novo o rectângulo em vida, Mas
sempre o ignoraste! A perplexidade pela síntese temporal contida numa
singela frase Mas sempre o ignoraste!
Durante quanto tempo? O seu polegar, vagueando na indecisão, tacteia letras e
números, como se uma extensão de um pensar cambaleante, por fim, decide-se
pelas teclas mais próximas da sua verdade e articula o seguinte juízo Não me podes censurar. E acrescenta-lhe
uma questão: Que podia eu fazer? De
novo, silêncio, após a tecla emissora. Quanto tempo passou desde que…? Sempre
demasiado. Agora, um silêncio de fim sobre as coisas. Ele ainda para ali,
debruçado sobre aquele rectângulo, como se de uma balaustrada contemplasse a
paisagem ida de si. Com o silêncio, as trevas de ecos da madrugada. Nem sono,
nem cansaço, nem vida nele, apenas uma melancolia paralisante e um fascínio
desesperançado por um ecrã agora apagado. De novo, o polegar, mais pausado, a
falar por si Ainda aí estás? A espera
por… A espera tem o rosto do desconhecido. E sempre desconhecemos este facto.
Uma vez mais, a timidez de um som a sobressaltá-lo, Tu sabes o que podia ter sido diferente, após isto, o seu olhar a
fechar-se, o passado (Recente? Longínquo?) timidamente a iluminar-se, com a cor
escarlate do arrependimento, a impotência dolorosa pelo horizonte vislumbrado
daquela balaustrada, de novo, um som tímido, Já é tarde. Talvez tenha sido sempre tarde. Ele a fechar a mão
sobre o rectângulo, talvez com demasiada força, frases iniciadas por não esvoaçaram por si, mas o polegar
imóvel. Pousou o rosto numa almofada, expirou o tempo suficiente para inspirar
serenidade, o polegar Sim. Mas ainda aqui
estou… O ecrã em luz e a tecla do destino cumpriu-se. Lá fora, ouviam-se os
primeiros passos da manhã…
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