Não me
recordo de a ver sorrir, não, de facto, um permanente traço de azedume no
rosto, característico dessa gente que, num momento da vida, cansou-se de olhar
o mundo, já nada dele espera, a compreensão de este ser um lugar muito pouco
recomendável, de manhã, saía pelo pão, fazia questão de anunciar ao prédio,
pelo estrondoso bater da porta, um aspecto que nunca compreendi, aquele
estrondoso bater da porta, em contraste flagrante com a figura, muitos Invernos
no rosto, baixa, seca, embora os gestos e a passada em dissonância com os
Invernos somados no rosto, compreendia-se, mesmo da distância, um constante
ruminar de palavras entredentes, de facto, talvez fossem insultos a quem com
ela se cruzasse ou ao fado que lhe calhou, curioso, esta questão ainda por aqui
(Que ruminava ela entredentes?), morava sozinha, desde a partida do marido, as
duas filhas emigradas, desde a partida não mais regressaram a Portugal, as
más-línguas diziam que nem os netos conhecia, mas nunca gostei de ouvir um só
lado das coisas, daí Deus ter-nos dotado de duas orelhas, certa manhã, naquela
típica azáfama antes de sair para o que conhecemos como mundo, um estrondoso
bater de porta, pois, fazia questão de anunciar ao prédio, meu pai, não sei bem
porquê, nessa manhã (...)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.