Livros do Escritor

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quarta-feira, 22 de julho de 2020

O que ficou lá atrás?



Não me recordo de a ver sorrir, não, de facto, um permanente traço de azedume no rosto, característico dessa gente que, num momento da vida, cansou-se de olhar o mundo, já nada dele espera, a compreensão de este ser um lugar muito pouco recomendável, de manhã, saía pelo pão, fazia questão de anunciar ao prédio, pelo estrondoso bater da porta, um aspecto que nunca compreendi, aquele estrondoso bater da porta, em contraste flagrante com a figura, muitos Invernos no rosto, baixa, seca, embora os gestos e a passada em dissonância com os Invernos somados no rosto, compreendia-se, mesmo da distância, um constante ruminar de palavras entredentes, de facto, talvez fossem insultos a quem com ela se cruzasse ou ao fado que lhe calhou, curioso, esta questão ainda por aqui (Que ruminava ela entredentes?), morava sozinha, desde a partida do marido, as duas filhas emigradas, desde a partida não mais regressaram a Portugal, as más-línguas diziam que nem os netos conhecia, mas nunca gostei de ouvir um só lado das coisas, daí Deus ter-nos dotado de duas orelhas, certa manhã, naquela típica azáfama antes de sair para o que conhecemos como mundo, um estrondoso bater de porta, pois, fazia questão de anunciar ao prédio, meu pai, não sei bem porquê, nessa manhã (...) 

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