Caros leitores, as minhas desculpas por, nestas últimas crónicas,
retratar desprezíveis e sinistras figuras, desde uma Porcachona, a um autêntico
boneco que usa cuecas do Tintim, passando por uma perna-de-presunto com laivos
de “dona do pedaço,”
não se preocupem, voltarei, em breve, aos
vôos que sempre me nortearam a escrita, falta-me só retratar uma desprezível e
sinistra figura, embora com uma notória aparência de desenho-animado, assim que
me apresentaram, logo o meu olhar perdido naquelas mais que proeminentes
dentuças, como é óbvio, era-lhe impossível fechar a boca, confesso não lhe ter
ouvido uma sílaba, fascinado que estava naquele subir e descer das favolas, bem
diante do meu rosto, e eu sem uma cenoura para…, senti-me o maior dos pecadores,
como era possível tamanha falha, as favolas, bem diante do meu rosto, subiam,
desciam, subiam, desciam, subiam, desciam, e eu sem uma mísera cenoura para
sossegar aquele frémito, a indumentária também não me passou despercebida, o
casaco anacrónico, trouxe-me, de imediato, à memória uma clássica série
portuguesa, “Duarte e Companhia,” que
personagem, as favolas, e eu sem uma mísera cenoura para sossegar aquele
frémito, o casaco anacrónico, uns quase invisíveis óculos, tudo se desvanecia
atrás das mais que proeminentes dentuças, reparei também na oleosidade capilar,
talvez pelo reflexo das luzes, como todo o coelho, olhar receoso e atento, o
perigo surge de onde menos se espera, em certa ocasião, veio de um telefonema, não
obstante estar perante uma audiência, atendeu a chamada e prontamente aos
gritos que o estavam a ameaçar, quando me relataram este episódio, não contive a
minha angústia e uma lágrima – logo a imagem das favolas, do anacrónico casaco
(trouxe-me, de imediato, à memória uma clássica série portuguesa, “Duarte e
Companhia”), numa panela fumegante, pelo
menos, dessa forma, a oleosidade capilar saberia o que é água –, desculpem, mas
esta imagem é demasiado dramática, as dentuças subiam, desciam, subiam,
desciam, subiam, desciam, em pânico, “Está a ameaçar-me… Está a ameaçar-me…
Está a ameaçar-me!”, todos, por ali,
entre a incredulidade e o espanto por tanto terror diante de um singelo
telefonema indevidamente atendido, não era sua função nem contexto
para tal, sejamos condescendentes, talvez a esperança, quando o telefone soou, de
um saquito de cenouras, temos de ser compreensivos, há uns dias chegou com ânsias
de protagonismo, desejos de realizar mímicas, desde o primeiro segundo, percebi
que esta criatura tem a garganta proporcional às dentuças, o resto, como é
óbvio, demasiado diminuto, instado por mim a avançar com o número teatral, claro
que se furtou, expectável, tem a garganta proporcional às dentuças, o resto,
como é óbvio, demasiado diminuto, acabou por se sentar ocultado pelo anacrónico
casaco e pelas mais que proeminentes favolas, o sebo capilar reflectia o posicionamento
das luzes no tecto, um dos flagelos do hoje é o crescente número de acéfalos e
acríticos, este desenho-animado só avoluma esta inquietude, bem tenta mascarar
a coisa atrás das favolas, enquanto sobem, descem, sobem, descem, sobem,
descem, mas não é necessário o dom da clarividência para se intuir a enormíssima
distância entre o verbo que lhe sai pelas dentuças e a débil intensidade do
olhar, caros leitores, alertei para o facto de, nestas últimas crónicas,
retratar desprezíveis e sinistras figuras, desde uma Porcachona, a um autêntico
boneco que usa cuecas do Tintim, passando por uma perna-de-presunto com laivos
de “dona do pedaço,” não se
preocupem, voltarei, em breve, aos vôos que sempre me nortearam a escrita, faltava-me
só retratar esta desprezível e sinistra figura, com uma enormíssima distância
entre o verbo que lhe sai pelas dentuças e a débil intensidade do olhar, é
possível que, por vezes, a digestão lhe seja difícil, toneladas de cenouras lá
terão o seu efeito, em momentos assim dá-lhe para tentar saltos que as mirradas
pernitas não lhe permitem, até por mensagens, é bom que tenha muito cuidado, a
época da caça já abriu, um dia destes pode ter uma desagradável surpresa, não
fosse o mundo uma aldeia, e perder a imagem de marca: aquelas mais que
proeminentes dentuças! Creio que ninguém se interessaria pelo anacrónico casaco,
a memória de uma clássica série portuguesa, “Duarte e Companhia”, no entanto, se quiserem saber a posição das
luzes do tecto, acreditem que o sebo capilar é de uma infinita utilidade, ficam,
de imediato, com toda a geografia dos pontos luminosos, experimentem
convidá-lo, não é preciso muito, basta um saquito de cenouras, assegurem-se
apenas de que ninguém lhe telefone, não vá pôr-se aos gritos “Está a
ameaçar-me… Está a ameaçar-me… Está a ameaçar-me!”, enquanto as favolas sobem, descem, sobem, descem, sobem, descem, num pânico
desmesurado, sejamos condescendentes, tem a garganta proporcional às dentuças, o
resto, como é óbvio, demasiado diminuto.

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