Livros do Escritor

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sábado, 29 de novembro de 2025

Um não assunto




Há uns anos, relatei a ascensão dos medíocres, hoje deparamo-nos com os seus podres frutos, a figura que hoje vou descrever é um paradigma da mediocridade, tinha múltiplas formas de iniciar esta narrativa, estou, de facto, indeciso, bom, tenho de escolher, trata-se de uma sujeita a caminhar, em largos passos, para o ocaso da vida, de uma certa distância parece um oito, por algum motivo apelidam este o país das rotundas, pois estão manifestamente em todo o lado, mais uma com o cabelo pintado de amarelo, uma larguíssima percentagem das entradotas, não sei porquê, opta pelo amarelo para maquilhar os brancos, ignoram que o problema não está nos cabelos, mas no oito avistado à légua do corpo, por algum motivo apelidam este o país das rotundas, pois estão manifestamente em todo o lado, enfim, há lugares onde o bom-senso nem ousa bater à porta, esta é daquelas criaturas que, logo à primeira vista, de uma inteligência mínima, causa repulsa, uma pose de “dona do pedaço,” sedenta de toda e qualquer atenção, um sentar-se de lado com a perna cruzada, como se houvesse algum holofote a si dirigido, nem uma lâmpada fluorescente se acendia para iluminar tal degradação, ignoro a causa, também não pretendo conhecê-la, lá surge um rafeirito ou dois a bajulá-la, ela em regozijo, haja um lugar onde, sentada, de lado, com a perna-cruzada, seja atenção para alguém, nem que seja para rafeiritos, quem sabe rareie atenção noutros contextos, a carência é tramada, um discurso superficial, deveras atamancado, frase sim, frase não, debita o sofrível “pronto”, meu Deus, que escassez vocabular, a primeira vez que a ouvi debitar “pronto,” confesso ter olhado para ver se provinha, de facto, daquele enchido, de perna cruzada, com pose de “dona do pedaço,” os óculos no cocuruto, talvez tenha visto numa novela ou em alguma dessas múltiplas revistas para acéfalos, sim, possivelmente, lá concluiu que lhe assentava bem, ora é vê-la, no quotidiano, de painéis-solares sobre a cabeça com laivos de modernaça, simplesmente risível, o problema está um pouco abaixo, no oito avistado à légua do corpo, por algum motivo apelidam este o país das rotundas, pois estão manifestamente em todo o lado, ao segundo “pronto,” num espaço de dois minutos, a personagem estava inteiramente apresentada, só um ou dois rafeiritos fielmente a ouviam, como há uns anos relatei, os medíocres ascenderam, e os invertebrados curvam-se perante estas aberrações em busca de toda e qualquer migalha, mais um minuto e…, outro “pronto,” já me ria de mim para mim, ainda olhei os painéis-solares, sobre o cocuruto, para ver se aguentavam a enxurrada de “prontos,” lá permaneciam, imperturbáveis, talvez colados às toneladas de laca, questionei-me que livros lera para tão exíguo vocabulário, se é que lera algum, embora, de forma evidente, se lançasse para fora de pé a citar nomes de ouvido, como se familiares próximos, nem dois minutos volvidos e outro “pronto,” a ouvi-la, agora, só se mantinha fielmente um rafeirito em anuências, aquelas vulgaridades como se de revelações divinas se tratassem, uma ou duas migalhitas a quanto obrigam, não obstante a escassez de auditório, o oito sob os painéis solares lá continuava a debitar “prontos” circunscritos a um discurso de pré-escolar, noutra ocasião, assisti eu, foi confrontada com uma questão, desta vez, os painéis solares abanaram, nitidamente este oito não estava habituado a tal, foi vê-la reerguer-se naquela pose de “dona do pedaço,” sem jamais olhar a génese da questão, por norma, os medíocres não olham de frente, construir um discurso redondo de duas ou três frases, mais não lhe era exigível, os “prontos” já lhe eram demasiado plurais, para se escudar, e não se demovia, finalizava sempre com “Isso é um não assunto,” qualquer investida do seu interlocutor “Isso é um não assunto,” nem a cabeça abanava, não fossem os painéis solares se precipitarem, dizem que fala alto dos outros quando estão ausentes, previsível, todo o cão ou cadela ladra atrás de um portão, é bom que ganhe juízo, muito juizinho, afinal, trata-se de uma sujeita a caminhar, em largas passadas, para o ocaso da vida, e, nesta caminhada, há quem tenha o dom de colocar os medíocres no seu lugar muito rapidamente, com mais ou menos “pronto,” com ou sem óculos no cocuruto, talvez, isso sim, se providencie um rafeiro para ouvir as suas boçalidades como se revelações divinas, e a cada “pronto” ou “isso é um não assunto,” o rafeirito proclamar um sentido Ámen.



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