Há uns anos, relatei a
ascensão dos medíocres, hoje deparamo-nos
com os seus podres frutos, a figura que hoje vou descrever é um paradigma da
mediocridade, tinha múltiplas formas de iniciar esta narrativa, estou, de
facto, indeciso, bom, tenho de escolher, trata-se de uma sujeita a caminhar, em
largos passos, para o ocaso da vida, de uma certa distância parece um oito, por
algum motivo apelidam este o país das rotundas, pois estão manifestamente em
todo o lado, mais uma com o cabelo pintado de amarelo, uma larguíssima
percentagem das entradotas, não sei porquê, opta pelo amarelo para maquilhar os
brancos, ignoram que o problema não está nos cabelos, mas no oito avistado à légua
do corpo, por algum motivo apelidam este o país das rotundas, pois estão
manifestamente em todo o lado, enfim, há lugares onde o bom-senso nem ousa
bater à porta, esta é daquelas criaturas que, logo à primeira vista, de uma
inteligência mínima, causa repulsa, uma pose de “dona do pedaço,” sedenta de toda e qualquer atenção, um
sentar-se de lado com a perna cruzada, como se houvesse algum holofote a si
dirigido, nem uma lâmpada fluorescente se acendia para iluminar tal degradação,
ignoro a causa, também não pretendo conhecê-la, lá surge um rafeirito ou dois a
bajulá-la, ela em regozijo, haja um lugar onde, sentada, de lado, com a
perna-cruzada, seja atenção para alguém, nem que seja para rafeiritos, quem
sabe rareie atenção noutros contextos, a carência é tramada, um discurso
superficial, deveras atamancado, frase sim, frase não, debita o sofrível “pronto”, meu Deus, que escassez vocabular, a
primeira vez que a ouvi debitar “pronto,” confesso ter olhado para ver se provinha, de facto, daquele enchido, de
perna cruzada, com pose de “dona do pedaço,” os óculos no cocuruto, talvez tenha visto numa novela ou em alguma dessas
múltiplas revistas para acéfalos, sim, possivelmente, lá concluiu que lhe
assentava bem, ora é vê-la, no quotidiano, de painéis-solares sobre a cabeça
com laivos de modernaça, simplesmente risível, o problema está um pouco abaixo,
no oito avistado à légua do corpo, por algum motivo apelidam este o país das
rotundas, pois estão manifestamente em todo o lado, ao segundo “pronto,” num espaço de dois minutos, a personagem
estava inteiramente apresentada, só um ou dois rafeiritos fielmente a ouviam,
como há uns anos relatei, os medíocres ascenderam, e os invertebrados curvam-se
perante estas aberrações em busca de toda e qualquer migalha, mais um minuto e…,
outro “pronto,” já me ria de mim para
mim, ainda olhei os painéis-solares, sobre o cocuruto, para ver se aguentavam a
enxurrada de “prontos,” lá
permaneciam, imperturbáveis, talvez colados às toneladas de laca, questionei-me
que livros lera para tão exíguo vocabulário, se é que lera algum, embora, de
forma evidente, se lançasse para fora de pé a citar nomes de ouvido, como se
familiares próximos, nem dois minutos volvidos e outro “pronto,” a ouvi-la, agora, só se mantinha fielmente
um rafeirito em anuências, aquelas vulgaridades como se de revelações divinas
se tratassem, uma ou duas migalhitas a quanto obrigam, não obstante a escassez
de auditório, o oito sob os painéis solares lá continuava a debitar “prontos”
circunscritos a um discurso de
pré-escolar, noutra ocasião, assisti eu, foi confrontada com uma questão, desta
vez, os painéis solares abanaram, nitidamente este oito não estava habituado a
tal, foi vê-la reerguer-se naquela pose de “dona do pedaço,” sem jamais olhar a génese da questão, por
norma, os medíocres não olham de frente, construir um discurso redondo de duas
ou três frases, mais não lhe era exigível, os “prontos” já lhe eram demasiado plurais, para se escudar,
e não se demovia, finalizava sempre com “Isso é um não assunto,” qualquer investida do seu interlocutor “Isso
é um não assunto,” nem a cabeça abanava,
não fossem os painéis solares se precipitarem, dizem que fala alto dos outros
quando estão ausentes, previsível, todo o cão ou cadela ladra atrás de um portão, é bom que ganhe juízo, muito juizinho, afinal, trata-se
de uma sujeita a caminhar, em largas passadas, para o ocaso da vida, e, nesta
caminhada, há quem tenha o dom de colocar os medíocres no seu lugar muito
rapidamente, com mais ou menos “pronto,” com ou sem óculos no cocuruto, talvez, isso sim, se providencie um
rafeiro para ouvir as suas boçalidades como se revelações divinas, e a cada “pronto”
ou “isso é um não assunto,” o rafeirito
proclamar um sentido Ámen.
Livros do Escritor
sábado, 29 de novembro de 2025
Um não assunto
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)

Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.