Livros

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sábado, 31 de dezembro de 2022


Uma das coisas que mais me fascinou em ti, foi facto de seres uma alma desarrumada, davas-me espelho, atenuavas-me a solidão, sabes, há divisões de mim onde nem à porta passo...

in Deslumbramento

A insularidade das sílabas

 


Como sempre, àquela hora, náufrago de mim, cedo aos doces apelos da tépida corrente do sono, no sofá, a meu lado, minha mulher sempre com a novela, assim que me distancio do mundo, com um ténue movimento de pálpebras, logo a sua voz a ecoar na sala, como se me adivinhasse a distância, através de uma interrogação, exclamação, mas um tom a sublinhar o imperativo de uma resposta, eu na contrariedade do regresso, o movimento das pálpebras mais lento, sempre o desafio da gravidade, de seguida, o esforço de me contextualizar, a desculpa mais à mão, Diz lá, não te ouvi, bastava-lhe o olhar, mas ela sempre mais, Já estavas era a dormir. Já nem televisão vês! Sinceramente, estás mesmo de todo, e eu queria mesmo era estar todo longe dali, daquela voz tão alta que até faróis encolhia, a exigir-me um regresso por mim indesejado, pelo menos àquela hora, ou talvez nas outras também, as mãos dela num frenético movimento de linhas e agulhas, o olhar absorto nas vidas que desfilam, diante de si, no ecrã, com uma pronúncia temperada, propícia a gerúndios recorrentes, uma vez mais, O que é que achas?, eu a hesitar, entre a anuência e a honestidade,  se lhe disser Acho que sim, corro o risco da questão pronta (Mas achas que sim, o quê?), logo faróis temerosos em penínsulas tempestuosas, se Estás a falar de quê?, inicia o interminável rosário de lamentações, desde o dia em que nos conhecemos, a apresentação aos pais, depois, aquele período, na vida dos casais, que antecede, ou não, uma vida partilhada, em que se conhecem, ou se enganam, porque aí só sorrisos e flores, como se fosse possível expulsar o azedume do horizonte dos homens, uma altura em que o gesto antecede o desejo, e é tão raro isto suceder na vida, só aqui um casal caminha contra o tempo, nunca mais o volta a fazer, Enganaste-me bem! E eu, parva, caí. Cheio de falinhas mansas, promessas e mais promessas, para acabar nisto…, entretanto, a campainha, por hoje, escapei, o miúdo vai a correr abrir, prefere brincar no quarto, talvez já conheça, demasiado bem, a sequência das falas desta divisão, mas ela atira, Já devias estar a dormir, assim que se recorda da sua existência, a vizinha da frente entra, nos gestos percebe-se a familiaridade do hábito, o miúdo aproveita para se despedir, pode ser que assim, no seu quarto, não haja luzes encolhidas, a vizinha senta-se no sofá ao lado, desde que entrou, o seu olhar não se desviou daquelas vidas com uma pronúncia temperada, propícias a gerúndios recorrentes, há uns meses que desagua na nossa sala, sempre a esta hora, parece que o vizinho se iniciou numa actividade coral, na paróquia, desconhecia-lhe aptidões para o canto, ao fim-de-semana só o vejo de volta do carro, primeiro com balde e pano, depois só com pano, apesar da varanda, nessa altura, percebo que um pano diferente, mais delicado, assim se passam as manhãs de Sábado, por fim, o aspirador ecoa pela praceta, alimentado por uma sucessão esforçada de tomadas, que se esticam desde uma janela até ao interior do carro, como uma ponte suspensa sobre um abismo, ora de calçada, ora de alcatrão, de novo, uma questão povoa a sala, O que é que acha, vizinha?, enquanto algures uma luz se encolhe, Acho que ela o deve deixar. Se ele a traiu…, já não ouvi o resto, sempre a mesma e cansada fórmula, o A que ama o B, o B que ama o C, o C que ama o D, que acaba por matar A, e olhos absortos perscrutam isto numa avidez virginal, prefiro abandonar-me aos doces apelos de uma tépida corrente que me leve para longe de mim, para um lugar onde as luzes não esmoreçam, a distância cresce à minha volta, continuo a ouvir gerúndios recorrentes, entre as mulheres, agora, nem uma palavra, talvez se a vizinha não tivesse o olhar tão absorto, e se a voz da minha mulher não encolhesse faróis em penínsulas tempestuosas, uma dúvida silenciada encontrasse a voz e o verbo, O que é que acha, vizinha?, e, então sim, minha mulher poderia responder, Não imagina como me irrita aquele aspirador todos os Sábados de manhã… Já agora, você tem ido à missa?, talvez me esteja a distanciar em demasia, há diálogos que só ocorrem num se de nós, levanto-me para ver se o miúdo já dorme, logo ela Passa rápido!, obedeço, da porta da sala observo-as, e, de certa forma, compreendo-as, no fundo, elas procuram recordar sorrisos e flores, uma altura em que o gesto antecede o desejo, como é raro isto suceder na vida, e uns instantes em que um casal caminha contra o tempo.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Com licença…

 


Quando ali entrámos, há muito que a ideia em mim, ela a apontar-me camisolas, casacos, cachecóis, mas eu, determinada, corredor fora, a loja, àquela hora, apelava a constantes rotações de ombros, e ao afamado com licença português, sempre pronunciado num tímido sussurro, como se de uma súplica se tratasse (Há quanto tempo este povo apenas ora e suplica? Talvez já nem ore, pois isso requer fé, apenas suplique…), com aquela peculiar sucessão de cês, é natural que ora ombros, ora com licenças, tímidos e sussurrados, afinal, trata-se de um Domingo à tarde, não sei bem porquê, mas sinto que há uma tristeza espreitante nas tardes de Domingo, e não afirmo isto por canções ouvidas nos idos da infância, mas por me sentir observada, nessas tardes, por uma melancolia maior que eu, talvez não seja a única, daí ora ombros, ora com licenças, tímidos e sussurrados, nos corredores desta loja, e em todas as outras, ao jantar, em minha casa, apenas a televisão com direitos de emissor, por vezes, como na escola, ergo um dedo apenas para reportar uma ocorrência do dia, logo o meu pai com um sonoro Chiiiiiuuuuu, minha mãe nem sequer se apercebe da minha intenção de tomar as vezes de emissor, tal o magnetismo daquele rectângulo, que apenas debita fome, guerra, peste e morte, há cavaleiros que esperamos há demasiados séculos, e, de tanto esperar, não nos apercebemos de que já vivem entre nós, contudo, nesta tarde de Domingo, ora ombros, ora com licenças, tímidos e sussurrados, nos corredores desta loja, nem vestígios de cavaleiros, nem do sonoro Chiiiiiuuuuu do meu pai, eu a chegar à minha ideia, como se tal fosse possível, só mais tarde iria compreender que as ideias vivem sempre mais adiante, a sentar-me num dos poucos bancos disponíveis, a fingir que experimentava as botas, perdi-me a olhá-las durante dias, ainda tentei expor este desejo aos meus pais, mas logo Chiiiiiuuuuu, os ombros subiram-me, fui para o meu quarto, desabafei através de teclas e símbolos com uma amiga, ela quase me insultou, de anacrónica a inocente desfiou um pouco de tudo, por fim, apresentou-me a sua versão das coisas, eu, ao início, escudada na incredulidade, ela insistiu, desta feita, pela sistematização do relato, vi-me forçada a considerar a possibilidade da verosimilhança do sucedido, ainda me lembro, o meu sono, nessa noite, entre a ambição e uma qualquer outra coisa, que nos faz arrefecer as acções em nome de limites, tão estranho, este balizar de acções, como se fosse impossível ir além de, enquanto outros, sem qualquer freio, parecem mobilizar-se sempre sobre linhas de horizonte, naquela zona difusa de luz e sombras, eu, no aqui, mão sobre o olhar, no esforço de lhes perscrutar os gestos, e um irreprimível desejo de os acompanhar, talvez tenha chegado o dia, levanto-me, avanço até um espelho, de facto, era mesmo isto que eu queria, ela entra num dos provadores, pela hora, pelas rotações de ombros, pelos com licenças, tímidos e sussurrados, ninguém contabilizava peças, reparo que leva descontraidamente duas camisolas, como se numa indecisão de cor, ou para comprovar o tamanho, mas o seu ar resoluto jamais indiciaria a escassez de carteira, resolvo calçar a outra bota, de novo, o espelho, enquanto me revejo seguro o cabelo, como se me turvasse a visão de pés e tornozelos, quanta orfandade nos nossos gestos, volteio-me, uma e outra vez, nisto, ela abandona os provadores, as mãos à vista, disponíveis, sempre descontraídas, regresso ao banco de há pouco, pego na carteira, na caixa dos sapatos, vou arrumá-la, quem a encontrar pode ser que goste de botas em segunda mão, pelo uso, diria antes quarta mão, ela espera-me um pouco à frente, garanto-vos que é quase impossível detectar as duas camisolas vestidas debaixo do casaco da original, sempre a sistematização, ao chegar junto dela, a questão foge-me, E agora?, ela olha à volta e com um sorriso responde, Vens a meu lado, seguimos pela saída sem compras, e vamos contando umas anedotas. Ah, já me esquecia, as botas ficam-te mesmo bem, enquanto me piscava o olho, ladeei-a, por muito que tentasse, parecia-me que todos à minha volta lançavam-me olhares de censura, ao mesmo tempo que olhavam com desdém para os meus pés, sentia-me agrilhoada, tive de respirar fundo para prosseguir, ela impaciente com as minhas hesitações de marcha, a linha de caixas à vista, um segurança, do outro lado, em diálogo com o intercomunicador, os grilhões a pesaram-me mais, não resisto a colocar-lhe a questão, como se uma súplica (ou oração?) por um incentivo, enquanto lhe seguro o braço, E se somos apanhadas? A expressão dela entre a ira e o espanto, Não pensaste nisso antes? Tiveste tempo! Há semanas que me falas dessas botas… Eu nunca fui. Espero que não seja hoje… Ela a afastar-se por causa dos meus grilhões, eu Espera! Vira-se para trás, queria dizer-lhe qualquer coisa, já não me lembro o quê, acho que palavras de limites, pareceu-me que tudo, à minha volta, se imobilizara, nem rotações de ombros, nem com licenças, tímidos e sussurrados, por uns instantes, para me ouvir, aproxima-se, coloca-me a mão no ombro, baixa a voz e diz-me É compreensível. É a tua estreia. Anda! Vais ver que tudo corre bem. Deixa-te de vergonhas. Vergonha é ser caixa de supermercado… A voz dela, agora, de uma linha do horizonte, naquela zona difusa de luz e sombras, quis responder-lhe, mas, uma vez mais, o Chiiiiiuuuuu do meu pai…

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O amanhã nasce com a noite


 

Havia uma árvore, num lugar da infância, a que gostava particularmente de subir. Quase sempre, ao final da tarde, trepava até ao segundo ramo, e ali me deixava ficar, a olhar. Não bem a olhar, apesar do rio, lá ao fundo, mas a estar. Talvez pela hora, um calor emanava, como uma expiração, da árvore, enquanto o mundo, à minha volta, acolhia a noite, ali perpetuava-se um vestígio de dia. Não havia melhor canto para se estar. Tudo tão longe de mim, e eu somente a dois ramos da nossa angustiada superfície. De vez em quando, o meu nome noutras vozes, tão estranho, o meu nome só com sentido por ser noutras vozes… Mas eu a estar. Apenas. Agora, tudo tão longe de mim. As águas murmurantes, lá ao fundo, a meio do vale, trajadas de laranja, talvez por olharem o céu, e o levarem, na sua corrente, como se passos numa mesma direcção, enquanto olhos que se olham. Uma brisa cansada anima palavras perdidas entre as folhas, que me falam de destinos, eu, neste momento, com o rio, lá ao fundo, a meio do vale, de vez em quando, um cão lamenta-se aos céus, pelas chaminés compreende-se regressos e jantares, uma carroça sobe o vale num gemido desesperançado, fico a ouvi-la, afigura-se-me uma sábia melodia, pela sua humilde convicção, de onde estou, compreendo-a melhor, quem sabe se pelos dois ramos acima da nossa angustiada superfície, em mim, neste momento, apenas o calor emanado deste ser que se finca na terra enquanto tacteia os céus, de novo, meu nome noutras vozes, nunca me souberam aqui, talvez por se terem esquecido de olhar para cima, de certa forma, compreendo-os, naquela superfície, por onde caminham, dificilmente se tacteiam céus, continuo com o rio, lá ao fundo, a meio do vale, entretanto, despira o laranja, agora traja um azul-escuro pontuado, aqui e ali, por vestígios de luz, continuam passos numa mesma direcção enquanto olhos que se olham, uma vez mais, o meu nome noutras vozes, desta vez, sinto a cor da superfície que pisam na entoação, o meu nome pintado de angústia, contudo, persisto com o rio, lá ao fundo, a meio do vale, extasiado por aqueles vestígios de luz, tão longínquos e tão familiares (Quantas vezes os hei-de encontrar em olhos que me olham?), e com o calor emanado por este ser, em parte oculto, em parte visível, mas sempre em harmonia, as vozes recrudescem, um pássaro canta no seu voo de lar, em mim, ainda, aquela sábia melodia, de uma humilde convicção, como um gemido desesperançado, da carroça que subia o vale, nesta altura, já terá cumprido o seu regresso, embora continue a ouvi-la, como se este fosse o seu lugar natural, sempre a procura por um sentido, talvez nas águas que fluem enquanto espelham as cores das alturas, olhos que se olham, sei que aqui vou regressar, amanhã, depois, para o ano, mesmo quando viver amanhãs distantes, sempre que as águas trajarem de laranja, vou-me afastar, dois ramos, da nossa angustiada superfície, embora não saiba para onde fluem as águas, tenho de regressar para me saber, o meu nome mais próximo, entoado com o perfil da superfície, tenho de descer, antes, um último vislumbre a um horizonte de sonhos, talvez por se diluírem distâncias, compreendo que cessara o calor emanado por este ser, em parte oculto, em parte visível, mas sempre em harmonia, talvez agora caminhe por outras paragens, quem sabe se acompanha o fluir das águas, olhos que se olham, já estou no primeiro ramo, antes de sentir o desconforto na sola dos sapatos, uma melodia reacende-se na minha memória, uma sábia melodia, pela sua humilde convicção, como um gemido desesperançado, que me  acompanha os passos enquanto as vozes de há pouco se silenciam, sob um azul-escuro pontuado, aqui e ali, por vestígios de luz, tão longínquos e tão familiares (Quantas vezes os hei-de encontrar em olhos que me olham?).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Como se pronuncia vazio?


Hoje, quando acordei, todos tinham saído. Já não me lembro da última vez em que uma palavra pela manhã. Vou à janela, abro as cortinas, há muito que o estore partido, o meu pai Não mexas aí, que sou eu que arranjo, eu não mexo, mas o arranjo continua a aguardar uma vontade por cumprir, talvez nunca a encontre, pela luz, que me devolve as distâncias, percebo a plenitude da manhã, nisto, compreendo, na entrada do prédio em frente, minha mãe, de esfregona nas mãos, está de costas, leio-lhe cansaço na lentidão, baixa-se para aproximar o balde de si, percebo-lhe a dor nas costas, sem lhe ver aquele característico esgar, jamais um lamento, tudo, por ali, se verbaliza em falanges contorcidas, o resto, palavras sem som, minha mãe (Desde quando lava o mundo? E a escada do prédio em frente?) longe desta minha vergonha, por encontrar, diariamente, manhãs em plenitude (Mas que fazer?), a esfregona em círculos, lentos, percebe-se-lhe o cansaço, dois miúdos entram a correr prédio adentro, como se nada diante deles, o calor estende-se, em mim, dos antebraços às mãos, a esfregona continua a sua dança circular, enquanto uma mão, de minha mãe, visita a testa, neste momento, no cimo da rua, meu pai com a sua jornada diária de esquecimento, começa cedo, minha mãe, do cansaço, ou talvez por uma compreensão desgostosa, nada de censuras, afinal, uma vida inteira de trabalho, e depois, uma carta a tentar calar décadas, ainda se deram ao trabalho de contar as linhas, eram oito, os anos de fábrica trinta e dois, continua a sair de casa à mesma hora, se não sair diz que endoidece, compreende-se, apesar da diferença no destino, num destes serões, quase num sussurro, disse para minha mãe, É a única porta que encontro aberta, nunca se ouviram censuras, talvez na sua consciência uma esfregona limpasse recriminações, que, assim, jamais encontrariam o verbo, nestas alturas, ela erguia-lhe os lábios à testa, quanto a mim, permaneço numa zona indefinida balizada por cadernos e livros e por rectângulos que se preenchem após um mês de balcão ou sentado numa caixa, a esfregona de minha mãe persiste nos seus lentos movimentos circulares – máscara do cansaço –, meu pai, agora, com oito linhas que tentam justificar trinta e dois anos, a sair de casa para abraçar o esquecimento, neste momento, à minha frente, do outro lado da rua, minha mãe acena-me, retribuo com uma saudação tímida, afinal, só há pouco abri as cortinas, mas no seu olhar, do outro lado da rua, não havia vestígios de censuras, apenas uma alegria genuína por me encontrar, e, naqueles breves instantes em que nos olhámos, sob a moldura de sorrisos, disse-me que eu não podia fazer mais, que me ouve entrar em casa, todas as madrugadas, em cuidados pela hora, vindo do armazém daquele grande supermercado, onde ajudo a arrumar infindáveis caixotes, com a esperança de assinar, por mais um mês, um rectângulo, assim, sempre ajuda lá em casa, e rectângulo a rectângulo, onde testemunho em magros números demasiadas horas, evito trajectos de esquecimento, contudo, à vista da esfregona, em círculos lentos, numa dança cansada, de minha mãe, daquele verbo peculiar comunicado por falanges contorcidas, sinto-me a olhar gigantes, apesar das horas de caixotes noite dentro, dos dedos dilacerados, das costas que gritam numa dessintonia de omoplatas, ombros, e cervicais, de súbito, uma vontade encontra-me, saio de casa, atravesso a rua, e, antes que as suas falanges contorcidas pegassem de novo no balde, eu pego-lhe, ela ergue-me os lábios à testa, já não há, em mim, vestígios de dedos dilacerados, de costas que gritam numa dessintonia de omoplatas, ombros, e cervicais, nada, neste momento, eu olho gigantes, minha mãe –  quantos degraus cumprem uma vida? –, neste momento, caminha o regresso a meu lado, numa majestosidade ferida, o destino enganou-se-lhe no ceptro, entretanto, do fundo da rua, alguém entoa uma canção de saudade, como se quisesse esquecer e lembrar ao mesmo tempo, meu pai, perdido entre duas margens, de súbito, compreendi a sua frase, sussurrada num destes serões, a minha mãe, É a única porta que encontro aberta.