Livros

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sábado, 29 de dezembro de 2018

Chegou a hora


- O que posso eu fazer? Sempre que há férias, ele quer rumar para ali…
- Oh! Lá está você com essas coisas, devia convencê-lo a ir para outros lugares, assim passa a vida e não conhecem mais nada! Já viu? Casa, trabalho, casa, e, depois, sempre que há uma pausa, quase como se fosse uma obrigação, fazem as malas e parece que não há mais para onde ir...
- Pois… De facto… Eu sei que você tem razão, mas que posso fazer? Ali ele sente-se bem. Fica mais calmo, sabe, passou ali muitos Verões da sua meninice, talvez seja por isso. A mim não me faz diferença ser ali ou noutro lado qualquer. Bom, em verdade, gostava de conhecer…
- Está a ver! Afinal, gostava de conhecer outros lugares!
- Sim e não. Talvez não me tenha explicado devidamente. Claro que me cansa um pouco ir, todos os anos, de férias para o mesmo lugar. Mas se ele sente-se feliz ali, porquê mudar?
- Talvez para alargar horizontes, o que acha?
- Você é mais feliz por isso?
(…)


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018


Serei o único a sentir tamanha dor por ver tijolos obscurecidos, pela humidade de Invernos sucessivos, no lugar de luzes e cartazes a anunciar sonhos caídos de sonos? 

in Rua da Saudade

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Rua da Saudade



Ainda por aqui a voz dela, quase em súplica, “Metemo-nos no carro, numa destas noites, e partimos sem destino”, anuí, embora discordasse, porque há muito aprendera que o destino é regressar, e creio que o meu passe pela Rua da Saudade, assim se chamava o meu lugar de entrada no mundo, foi ali, desde muito cedo, que compreendi o peso e complexidade do meu molde, não, não ia ter uma tarefa fácil, mas sabia não lhe poder escapar, por isso, quase tacteando, lá fui aprendendo os meus cantos de sombra e iluminados (…)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018


(…) quando a monotonia assume o leme do nosso viver, acabamos por adormecer para o sonho, dormir sem sonhar acaba por se tornar um hábito (…)

in De volta a um lugar feliz

sábado, 15 de dezembro de 2018


(…) como se tudo no mundo encontrasse o Sentido, pelo menos eu encontrara, as estrelas na terra, o deslumbramento, a hora entardecida, o inebriar do seu perfume, o astro a mergulhar nas águas, o meu ressuscitar, afinal, só renasce quem estava morto. 

in Àquela que me trouxe as estrelas à terra

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

sábado, 8 de dezembro de 2018

De volta a um lugar feliz



“Como é mesmo o seu nome?”, de início esbocei um sorriso, algures entre a genuinidade e um desconforto nervoso, com o tempo, a questão regressava, “Como é mesmo o seu nome?”, acompanhada da mão esforçada que me pousava no antebraço, a dúvida sentava-se bem à minha frente, não havia como desviar o olhar, o seu eco ressoava inclementemente em cada canto de mim (“Como é mesmo o seu nome?”), até que esta questão sucumbiu para dar lugar a uma outra “Quem é você?”, sublinhe-se a parcimónia da voz em cada sílaba, o genuíno espanto no olhar como se me visse pela primeira vez, creio que, como resposta, apenas lhe espelhava o meu profundo terror por um veredicto impronunciado, nestas alturas, refugiamo-nos num ontem feito hoje, e por aí nos deixamos estar, para anestesiar a dor por uma evidência que nos gela o sentir, um “adeus” a um respirar conhecido (…) 

terça-feira, 4 de dezembro de 2018


(…) falava recorrentemente da sua casa, de um só piso, apelava aos filhos para que ninguém tocasse nos três pinheiros, do lado direito, trazia ao seu alvo leito hospitalar com insistência a doçura da sombra, aquando do estio, derramada pelos pinheiros, sob a qual ela e o marido se deitavam tardes infindas, a ouvir o canto das cigarras e a melodia da brisa entoada pelo coro das ramagens, desde o início havia um sentir generalizado de que ela sabia, embora ninguém ousasse verbalizar, aquelas coisas que se falam sem voz, sempre as mais significativas, e, no fundo, as que perduram (…)
in Rua das Buganvílias

domingo, 2 de dezembro de 2018




Compreendo, com tristeza, que a felicidade é sempre retrospectiva. É sempre a estação deixada para trás. Toda a tristeza do mundo desenha-me no rosto a ténue linha de um sorriso compreensivo – aquele que provém do tempo.

in Queria rever o teu rosto ao entardecer