Livros

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segunda-feira, 31 de julho de 2017



"... certa noite, o amigo mais próximo deposita-lhe uma sugestão, pertinho do ouvido, e remata: Vais ver que não custa nada… A seguir, uma beira de estrada, um carro a desacelerar, o vidro baixa, o sujeito anafado, com uma calvície suada, mais velho que o pai, de sorriso suíno, três frases e negócio firmado, ela com a urgência renovada de retomar a fuga, a dignidade já nem nos bolsos..."

in "O silêncio do verbo"

sábado, 29 de julho de 2017


"Nem dei pela passagem da reunião. Mas sei que a vivi. As marcas ficam. Ficam sempre: um contínuo subtrair de entusiasmo. O seu equivalente traduz-se na crescente compreensão dos velhos, que ruminam incessantemente, com as suas bocas desertas, sonhos inconclusivos. Seduzimo-nos por brindar ao que foi, e esquecemo-nos de brindar ao que poderia ter sido. Hoje, neste regresso a casa, uma vez mais na auto-estrada da monotonia, vejo, à minha direita, a serra que se oculta na névoa do entardecer, e, à minha esquerda, o mar de sempre. Nasce, em mim, o desejo de um rosto pintado de promessa." 

in "Queria rever o teu rosto ao entardecer"                             

segunda-feira, 24 de julho de 2017


Naquela estação, não houve beijos, longos abraços, dedos que se tocam, nada… Isso é para os filmes! Assim que a marcha se iniciou, nem os olhos se reencontraram mais. Nada! Ela inicia o regresso. Talvez cambaleie, afinal, quem conhece a sua geografia interior daquele momento? Cabeça baixa, uma mão no bolso, a outra segura um objecto (qual?), e o passo incerto de quem só possui pretérito. Quantas vezes na vida apenas temos pretérito? Porventura, vezes a mais… Mas quem o reconhece?
in "Um encantado e lento entardecer"

sexta-feira, 21 de julho de 2017



 "... com o tempo, o sorriso foi estreitando enquanto os braços empalideciam, aquela vozita filha da espontaneidade foi ficando arrastada, curioso, nunca quis nada que lhe ocultasse o roubo da coroa, apenas uma frase para atenuar o efeito, Assim pareço o Avô, talvez compreendesse que há vazios intangíveis, talvez por gritarem para além da rouquidão, ainda ontem, ao telefone, falava-lhe de natais por nascer e de aniversários por cumprir, os braços lívidos ajudaram-no a pousar o telefone, percebeu-lhes a dificuldade, afinal, ninguém ilumina um universo para assistir ao seu sono."
in "Os anjos não caminham"

terça-feira, 18 de julho de 2017



"Nessa noite, a nossa amizade viu a luz do dia. Uma amizade sem exigências: no fundo, a verdadeira. Minto, ele apenas me pedia que o levasse a passear duas vezes por dia. De manhã, para me mostrar a leveza do ar e a nitidez das coisas; e à noite, para me ensinar a distância das estrelas e sentir a respiração da terra. Em verdade, não pedia muito. Quantos não pedem mais, e não nos ensinam nada?"

in "Só espero que encontres um lugar onde reclinar a cabeça"



sábado, 15 de julho de 2017



"Afinal, tudo não passa de uma enorme desilusão pelo nada que foi dito, e pelo tudo que ficou por dizer. As falanges a serenar enquanto os olhares agora repousam naquele silêncio de fim. Ela acrescenta Esta é a tua história. Cheguei a meio. Porém, conheceste-me no cinzento e trouxeste-me para o azul. Ele sorri. Vira-se para ela e beija-lhe a face. Assim ficaram, até que um ligeiro frio lhes relembrou noite. As águas silenciosas agora em prata. Regressam ao quarto ainda de sentires entrelaçados. Fecham a porta de vidro. Acendem um candeeiro. O mundo, lá fora, já uma noite imensa. Enquanto eles se sorriem sob uma luz."
in "Do outro lado do rio, há uma margem"

quarta-feira, 12 de julho de 2017


"O tempo é o homem".

in "Do outro lado do rio, há uma margem"

sexta-feira, 7 de julho de 2017



"Pela segunda vez, nessa noite, ele beijou-a e murmurou-lhe amor e perdão, enquanto ela o silenciava com um gesto sentido. Assim ficaram, abraçados, sob o silêncio da madrugada."
in "Olhei para trás e sorri..."

Foi no alto de uma colina, que aprendi a olhar o mundo" - Pedro de Sá

quarta-feira, 5 de julho de 2017


"Cada ocaso é  um melancólico espelho da nossa finitude."

in "Olhei para trás e sorri..."

segunda-feira, 3 de julho de 2017


"Este não é, definitivamente, um mundo de silêncio. Estamos submersos de gritos, vozes, apelos, sinfonias, buzinas, uivos, ladrares, choros, risos, sussurros, confissões… Basta fecharmos os olhos, numa tentativa surda de repouso, para compreender a utopia jamais tangível do silêncio… "
in "Queria rever o teu rosto ao entardecer"