Lembram-se da Nininha, essa mesma, aquela
personagem rasteira, maldizente,
sabuja, até de estatura não se distancia muito do chão, o focinho está a
meio-caminho entre uma mulher-a-dias e uma freira arrependida, a indumentária
também oferece o seu contributo para este quadro, mobiliza-se por sombras e
esquinas, pois bem, há novidades, desde logo, a que mais saltou à vista foi o
retirar da bandolete, chocante, dramático, dilacerante, sem dúvida, esperemos
que a anterior crónica não tenha contribuído para tal desfecho, mesmo assim, a
ruralidade não a larga, pois, há coisas que se colam à pele, ajeitou, à sua
maneira, claro, a disforme massa grisalha que lhe preenche o cocuruto, não sei
que desarranjo foi aquele, apenas acentuou os farrapos esbranquiçados, o efeito
final é de uma ratazana assustada a farejar em busca do esgoto mais próximo, lá
se foi o focinho a meio-caminho entre uma mulher-a-dias e uma freira arrependida,
como as coisas mudam no espaço do viver, e a bandolete, meu Deus, que tragédia,
sublinhe-se o facto de toda a ratazana ter entrada directa em qualquer episódio
do TV Rural, como anteriormente sublinhámos, encostou-se a um desses trabalhos
estatais onde a única aptidão passa por ser um perfeito analfabeto-funcional,
há uns dias, um conhecido meu, por inerência das suas funções, leu umas sofríveis
linhas saídas da pata da Nininha, uma redacção algures entre a terceira ou quarta-classe,
se ao menos a bandolete, essa é a dúvida, creio que se ainda a usasse, para
segurar a disforme massa grisalha que lhe preenche o cocuruto, no mínimo
sair-lhe-ia, não uma “Ode
Marítima,” mas, no mínimo, uma Ode Subterrânea, não fosse ela, como toda a ratazana, uma
criatura rasteira, maldizente, sabuja,
até de estatura não se distancia muito do chão, num final de tarde, esse meu
conhecido viu-se, numa sala, perante sinistras personagens que têm ocupado as
últimas crónicas, esta ratazana, por exemplo, em silêncio, talvez ainda
combalida pela ausência da bandolete, sempre que abre a boca só lhe sai fel e
alarvidades, pouco mais, abana a cabecita (proporcional à escassez de
massa-encefálica) enquanto destila o seu veneno, como se em espasmos, também lá
estava o célebre Bugs Bunny, da crónica anterior, com o seu anacrónico casaco a
lembrar a célebre série portuguesa “Duarte e Companhia,” as dentuças omnipresentes, numa clara ameaça
de trincar qualquer um, tal a sua dimensão, o sebo capilar reflectia os pontos
luminosos do tecto, não podia faltar a “dona do pedaço,” sedenta de
atenção, a carência é tramada, com a sua perna-de-presunto cruzada, embora,
como os enchidos estavam sob as mesas, não permitia ver se, desta vez, a
cruzara, desperta inevitavelmente a reminiscência do fumeiro em casa dos avós
na distante província, como se vê, nem tudo é mau, quando avistamos enchidos logo
pela manhãzinha ou à noitinha, pelo menos levanta-se a imagem da meninice junto
dos avós, também por lá uma baixota, de olhos-piscos, como se sopesasse a
mensagem perante o receptor, a espontaneidade há muito partira daquela
criatura, não por acaso aquele incessante piscar, um alerta aos incautos, que
nenhuma luz providencia ao acontecer, por fim, um sujeito, não fosse o
exagerado número de grisalhos, com um penteado saído da primeira-comunhão, o
cabelinho penteado para o lado enterneceu-me, outro que se gosta de ouvir, em
momentos assim, percebe-se-lhe o engrossar da voz, a necessidade de afirmação
tem, por norma, géneses muito profundas, sempre de casaco, confere, nos seus
padrões, um ar distinto, apesar de sentado, como os restantes, sentir-se-ia num
pedestal ao ouvir-se, apenas a vista o traía, mesmo com os óculos, a qualquer
momento, em ameaça de se precipitarem da ponta do nariz, a dificuldade em
encontrar as letras era notória, por mais que uma vez viram-no de casaco de
bombazina, que ternura, a infância a levantar-se em todo o horizonte, bombazina,
há quanto não ouço esta palavra, creio, com sinceridade, que fala com à-vontade
de qualquer temática, de futebol a geopolítica, de literatura a nutrição,
passando pelo mercado imobiliário e acabando em estética capilar, o arquétipo
do manguinhas-de-alpacas, a um olhar minimamente atento bastam duas ou três frases
trocadas para se compreender o logro, mais é um atentado à inteligência, um
ponto muito sensível desse meu conhecido, à quarta frase do
manguinhas-de-alpacas um vómito espiritual a nascer-lhe, perto do fim, só o meu
conhecido chamou a atenção para as sofríveis linhas saídas da pata lamacenta da
Nininha, uma redacção algures entre a terceira ou quarta-classe, ainda a
intrujice de ocultar que outros lhe perceberam ser rasteira, maldizente, sabuja,
porém, do fundo daquele lodaçal vieram hossanas à ratazana, foi vê-los, da perna-de-presunto
ao manguinhas-de-alpacas, dos olhos-picos às dentuças do Bugs Bunny, em
louvores com as sofríveis linhas da ratazana, com a vigarice de branquear quem
lhe apontou o desprezível esgoto que é, enfim, pensou o meu conhecido, a
Dignidade há muito dali partira, não se comunica com ratazanas, dentuças,
olhos-piscos e manguinhas-de-alpacas, bem diz o povo: “Aos burros dá-se
palha e não conversa;” Dignidade: será que conhecem este conceito? Basta
atentar na curvatura das costas de cada um dos infelizes, pois, tal como a
ratazana, o chão não lhes é um lugar assim tão longe.

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