Livros do Escritor

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domingo, 22 de junho de 2025

Uma jóia nada valiosa


 

A personagem que hoje vou abordar, fisicamente, está a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, acresce a esta volumetria um pormenor que sempre me fascinou, como se o esplendor máximo dos paradoxos, sobre a cintura escapular uma cabecita, de pombo-coscuvilheiro, a olhar avidamente o mundo em volta, com receio de perder qualquer significativo episódio, conheci-o num contexto muito específico, onde os favores contam bem mais que a competência, mais uma dádiva deste regime com cinquenta e um funestos anos, à primeira vista, uma personagem que fisicamente está a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu parece um bonacheirão, no entanto, a primeira nota dissonante, de facto, era a sua cabecita, de pombo-coscuvilheiro, a olhar avidamente o mundo em volta, com receio de perder qualquer significativo episódio, tinha a seu cargo dois formandos, o que muito lhe convinha para subtrair drasticamente o horário-laboral, ambicionavam trabalhar nesse contexto muito específico, onde os favores contam bem mais que a competência, a segunda nota dissonante adveio das expressões desencantadas e sofridas de ambos, não raras vezes dei por mim a matutar na razão daqueles semblantes, como nunca tive muita paciência para jogos de máscaras, opto por demonstrar ao que venho, assim que denoto dissimulação por perto, logo inverto o jogo, e de mim passam a ter somente distância, e muita, como já salientei, este contexto muito específico, onde os favores contam bem mais que a competência, estava sob as patas de uma alternadeira, em volumetria não ficava aquém desta personagem, a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, o cabelo, se assim se pode designar aqueles fios sebosos, que ignoravam o objecto escova, sobre o cocuruto, claro que, com tanta volumetria à mistura, eram amigos, favor daqui, favor de acolá, e as muito proeminentes barrigas lá iam empurrando o acontecer de acordo com os seus interesses, em certa ocasião, a cabecita, de pombo-coscuvilheiro, virou-se para mim e “É que eu não me posso enervar… Sofro do coração! Até tenho um atestado-de-incapacidade…,” só com muito esforço reprimi as lágrimas, um quase herói, guindado a grandes feitos, a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, afinal sofria do coração, isso, em verdade, só o engrandecia, embora, com o decorrer dos dias, as expressões desencantadas e sofridas, dos seus formandos, se acentuassem, nos bastidores a coisa seria bem distinta, talvez de bonacheirão só manifestamente o ar, esta ideia começou a germinar em mim, surgiu a oportunidade, numa determinada circunstância, de trazer, como convidados, amigos meus a esse contexto muito específico, onde os favores contam bem mais que a competência, pedi à cabecita, de pombo-coscuvilheiro, que fizesse o favor de preencher um dos infinitos papéis do hoje, prontamente anuiu, meses depois descubro que se apossou da actividade, do meu nome, nem uma sílaba; idealizo, convido amigos, e nem uma sílaba no papelucho, pena que só meses depois descubra tal facto, mas se, porventura, hoje o encontrasse, não conseguiria reprimir as lágrimas ao ouvir “É que eu não me posso enervar… Sofro do coração! Até tenho um atestado-de-incapacidade…,” atenção: não duvido que sofra do coração, com uma cintura, algures entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, qualquer coração está destinado ao sofrimento; quando, por acaso, alguém maldizia a alternadeira, a cabecita rodava prontamente para escutar, creio, ainda hoje, que a sua escassez de trabalho se deve ao generoso coração da alternadeira, que se emocionou perante “É que eu não me posso enervar… Sofro do coração! Até tenho um atestado-de-incapacidade…,” só alguém com gelo a correr nas veias não se emocionaria com tal clamor, logo uma alternadeira, com tão fartas carnes, que, antes do meio-dia, não conseguia largar a cama, talvez aguardasse pelo guindaste que a conseguisse dali erguer; a cabecita, de pombo-coscuvilheiro, apesar de tão sensível coração e do respectivo atestado-de-incapacidade, aproveitava o demasiado tempo sobrante para actividades que lhe enchessem os bolsos, ainda hoje me questiono como é possível uma figura, que fisicamente está a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, ser crível para guiar alguém ao olimpo dos seus sonhos, enfim, talvez seja eu e as minhas exigências, foi num final de tarde, na minha rua, vinha eu a chegar, meses depois de já não me cruzar diariamente, no mesmo espaço, com a cabecita, de pombo-coscuvilheiro, e encontro um dos seus formandos, parei o carro, uma breve troca de palavras, que desaguou “Se lhe contasse tudo… Se lhe contasse tudo… Certo é que ambos desistimos!,” as expressões desencantadas e sofridas de ambos não eram um acaso, se somar a este episódio o ter-se apropriado de uma actividade minha, o quadro já fica bem mais elucidativo, até deixo de lado a amizade com uma alternadeira, em volumetria não ficava aquém desta personagem, a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, o cabelo, se assim se pode designar aqueles fios sebosos, que ignoravam o objecto escova, sobre o cocuruto, claro que, com tanta volumetria à mistura, eram amigos, favor daqui, favor de acolá, e as muito proeminentes barrigas lá iam empurrando o acontecer de acordo com os seus interesses, deixo a aviso a quem, por acidente, num dos caminhos da vida, se cruzar com uma cabecita, de pombo-coscuvilheiro, a olhar avidamente o mundo em volta, com receio de perder qualquer significativo episódio, fisicamente a meio-caminho entre o Shrek e o Panda do Kung Fu, se o ouvir “É que eu não me posso enervar… Sofro do coração! Até tenho um atestado-de-incapacidade…,” prepare um lenço, nem todos têm a capacidade de refrear as lágrimas.

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