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sábado, 2 de maio de 2020

Uma mesa, duas cadeiras



No silêncio desta madrugada, uma ideia senta-se-me no pensar, vinda de um lugar incógnito, no fundo, de onde brotam as ideias que se nos demoram no pensar, pressenti que esta, de facto, pousara as malas: algum dia iremos terminar as conversas interrompidas? De costas para a janela da sala, olho a mesa, as cadeiras, de novo, algum dia iremos terminar as conversas interrompidas? Nem teria de ser por aqui, podia ser do outro lado, onde a cada respirar mais nos aproximamos, tantas palavras reprimidas, silenciadas por, na altura, não terem encontrado a voz, atropelam-se num ponto difuso de nós, levantam dias idos onde, se tudo numa outra direcção, talvez as conversas terminadas, aqui estou, de costas para a janela da sala, a olhar a mesa, as cadeiras, a reflectir se, neste momento da vida, estou onde de facto deveria estar, se tudo não poderia ser uma outra coisa, na tragédia de só podermos viver, pelo menos de cada vez, uma existência, pois, algum dia iremos terminar as conversas interrompidas? Agora surge-me a imagem da dona Maria do Céu, mora no prédio em frente, no segundo-andar, nunca casou, viveu sempre com a mãe, acompanhou-a até à sua última expiração...

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