No
silêncio desta madrugada, uma ideia senta-se-me no pensar, vinda de um lugar
incógnito, no fundo, de onde brotam as ideias que se nos demoram no pensar,
pressenti que esta, de facto, pousara as malas: algum dia iremos terminar as
conversas interrompidas? De costas para a janela da sala, olho a mesa, as
cadeiras, de novo, algum dia iremos terminar as conversas interrompidas? Nem
teria de ser por aqui, podia ser do outro lado, onde a cada respirar mais nos
aproximamos, tantas palavras reprimidas, silenciadas por, na altura, não terem
encontrado a voz, atropelam-se num ponto difuso de nós, levantam dias idos
onde, se tudo numa outra direcção, talvez as conversas terminadas, aqui estou,
de costas para a janela da sala, a olhar a mesa, as cadeiras, a reflectir se,
neste momento da vida, estou onde de facto deveria estar, se tudo não poderia
ser uma outra coisa, na tragédia de só podermos viver, pelo menos de cada vez,
uma existência, pois, algum dia iremos terminar as conversas interrompidas?
Agora surge-me a imagem da dona Maria do Céu, mora no prédio em frente, no
segundo-andar, nunca casou, viveu sempre com a mãe, acompanhou-a até à sua
última expiração...
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