Ainda
por aqui a imagem da primeira vez que o vi, ninguém lhe podia ficar
indiferente, realizava, num contexto propício a tal, um exercício cujo
movimento ficava a meio, e a seguir outro, mais outro, todos os movimentos pela
metade, ou talvez fosse uma outra coisa, pois, a verdade é esta, percebi, assim
que o vi, estar na presença de um verdadeiro Ninja, claro que executava os
movimentos correctamente, a nossa visão é que estava sempre aquém da
sua velocidade, a realidade
era esta, sim, sem dúvida, chama-se Yang, o nosso Ninja, quando algum
incauto o procurava corrigir, o nosso herói, de poucas falas como todos os
grandes ícones do mundo da acção, limitava-se a responder, de forma quase sumida, “Não plecisa
de
ajuda”, elementar, conciso, pragmático, como um Ninja
conseguiria explicar, a um simples mortal, que o olhar comum está aquém da sua velocidade
de movimentos? Levantou-se-me logo, vinda da memória, a canção do genérico de
uma série de infância, nem por acaso sobre heróis de Shaolin, agora, à minha
frente, ali estava um, afinal eram reais, as más-línguas diziam que trabalhava
num desses armazéns que alimentam as lojas das suas gentes, duvido muito, a
maledicência não tem limites, e que vivia com a mãe, imagine-se: um verdadeiro
Ninja a trabalhar num armazém que alimenta lojas orientais e a viver com a
mãe?! Onde já se viu tal??? Obviamente tudo falsidades, é recrutado para
missões-secretas de alto-risco e quando regressa tem, à sua espera, o leito de múltiplas
pretendentes, a nossa visão é que estava sempre aquém
da sua velocidade, a realidade era esta, o destino, esse incógnito que,
volta-e-meia, gosta de nos relembrar a sua existência, forçou-o a ir treinar
para outro espaço, ali chegado pagou uma anuidade, como era seu hábito, e em notas,
às habituais e inconvenientes questões (“Quer factura? Precisa de recibo?
Tem a certeza de que não quer?) limitava-se a repetir, de forma quase
sumida, “Não plecisa…”, lesto a virar-costas e seguir o seu caminho, lá foi
para a sala-de-exercícios espalhar a sua magia, claro que, por ali, também não
estavam preparados para assistir aos treinos de um Ninja, a nossa visão estava sempre aquém da sua
velocidade, não tardou muito para que os incautos profissionais se aproximassem
em tentativas de o corrigir, já um pouco desgastado, o nosso Ninja, num tom sem
réplica, “Não plecisa de ajuda… “Não plecisa de ajuda…”, e
assim continuava a sua saga, de exercícios pela metade, apenas uma ilusão de
óptica para o nosso desarmado olhar, perante este tom sem réplica, ninguém
ousava contra-argumentar, todos se afastavam para dar largas à maledicência,
coitados, ignoravam o essencial: que a nossa visão estava sempre aquém da sua
velocidade; houve quem o visse, de noite, à janela de sua casa, a vigiar o
armazém, do outro lado da rua… Mentira! Estaria à espera da sua próxima missão,
talvez fosse num longínquo ponto do mundo, nem dariam pela sua entrada quanto
mais da sua saída, como era possível, de um Ninja, afirmar que, aos
fins-de-semana, se limitava a uns passeios, pelo bairro, com a mãe?! Não, não
pode ser, não acredito, é o cúmulo da maledicência, Yang, o Ninja, seja em dia
for, ou está a salvar o mundo de um qualquer inimigo da humanidade ou a preparar-se
para tal, e não se preocupem, se alguém lhe perguntar se precisa de ajuda, já
sabe a resposta! Como todo o herói tem o seu disfarce, usa uns óculos quase
colados ao rosto, para esbater as feições duras de guerreiro, em verdade, não
me passou despercebida a sua constante atenção à envolvência, como se em alerta
face a um possível ataque, tinha razão: estava em presença de um verdadeiro
Ninja, se, por acaso, Sábado ou Domingo, virem um filho a passear a mãe, pelo
bairro, escusam de perguntar se precisa de ajuda, porque não é Yang, o Ninja,
esse estará num lugar longínquo a lutar para termos um amanhã, e, sim, é
verdade, jamais “Plecisa” de ajuda…

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