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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Um vaso à janela

 


Certa noite ela resolveu escrever este desabafo (“Prefiro a companhia dos bichos do que das pessoas, porque sei que eles nunca me vão desiludir”), escusado será dizer que o fez na praça pública do hoje, antes saía-se de casa para se encontrar os outros, pôr a conversa em dia, porventura exibir a nova indumentária, em todos os passos olhava-se o outro nos olhos, desde há uns tempos tudo sucede atrás de um écran, e tudo é motivo de exibicionismo, do lugar onde se está ao prato que se tem à frente, da roupa ao penteado, do carro à velocidade, do que se queria ser ao que se é, pois, as ilusões são mais férteis quando não se olha o outro nos olhos, vidas aparentemente tão preenchidas, realizadas, bem-sucedidas, preenchidas com sorrisos e repletas de cor, pois, as ilusões são mais férteis quando não se olha o outro nos olhos, o intransponível abismo entre o que se queria ser e o que realmente se é, uma vez alguém disse “Nunca vi ninguém publicar uma lágrima. E numa lágrima salgada está contida toda a verdade do mundo”, não podia estar mais certo, foi com espanto, ou talvez não, que li esta frase (“Prefiro a companhia dos bichos do que das pessoas, porque sei que eles nunca me vão desiludir”), escusado será dizer que choveram comentários, a maioria com o timbre das carpideiras (“Então, o que se passa? Está tudo bem? Se precisares, desabafa… Quem te magoou?”), em vez do problema, a procura da génese, apenas pela deplorável coscuvilhice, ela vivia no terceiro-andar...


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