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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Clareza

 


Uma frase que me regressa com frequência é “Quem está de fora vê melhor o filme”, tudo na vida tem um tempo, a própria vida é uma porção de tempo que nos é concedido, cada um gere como pode, sabe ou desconhece, de facto a maioria obstina-se em esquecer este singelo facto (a própria vida é uma porção de tempo que nos é concedido), sempre o recorrente virar de costas à problemática da morte, como um indesejável que, volta e meia, nos toca à porta, e insistimos em ignorar, apesar de termos consciência de que, num dado momento, forçosamente teremos de acolhê-lo, mas alimentamo-nos da ilusão de fugazes eternidades para manter a porta fechada a tão incómoda visita, andamos de distracção em distracção para não nos olharmos, tudo serve para nos alhearmos, de minudências a futilidades (quantas existências sobre a terra se balizam por aqui?) se nos olhássemos e, por fim, conhecêssemos, compreendíamo-nos perdidos na noite da alma, sem um resquício de amanhã nesse negrume infindo, certa noite, ouvi alguém dizer “Espera pela manhã. Não se deve tomar decisões à noite! Com a manhã, verás tudo com mais clareza”, segui esse conselho, para minha surpresa, de facto, na manhã seguinte, aprendi a soletrar devidamente cla-re-za, tudo se me afigurou distinto à luz matinal, os problemas vespertinos, insuflados com o negrume da noite, surgiram-me neutralizados, quase extintos, como se diluídos pelo amanhecer...

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