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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Tenho de aprender a deixar-me em paz

 


Sempre que o meu pai ia de férias inevitavelmente ouvia-o a exclamar “É essencial para descansar a cabeça!”, mas é também inevitável que só ouvimos os pais no início e no fim da vida, de outra forma, no início prestamos atenção às suas vozes, no fim ouvimos-lhe os ecos e a razão que os acompanha, então passei a encarar esse período, entre outras coisas, também “para descansar a cabeça”, porém, devo confessar, neste ponto o meu absoluto fracasso, em miúdo, por exemplo, enquanto me dedicava, com o devido afinco, às brincadeiras próprias da meninice na areia, desde os jogos de bola aos mergulhos, volta e meia o meu olhar detinha-se nos adultos, deitados nas suas toalhas, concentradíssimos, virados para o sol, e um pensamento levantava-se-me, “Pois, lá está, estão descansar a cabeça”, acreditava piamente nisto, que tinham esse dom, o de desligar o pensamento, como se o arrefecessem para não ser tão incómodo, foi mais ou menos quando eu também ocupei uma toalha, concentradíssimo, virado para o sol, que me apercebi da minha ingenuidade, não, o pensar simplesmente não nos larga, continua incessantemente a gritar-nos em cada canto do ser...

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