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quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Veritas liberat


 

Há uns dias, numa rua deste outrora país, vejo uma série de carros com as rodas bloqueadas, à volta dos vidros uma fita demasiado fluorescente, prudentemente seguro pelo limpa pára-brisas, no vidro da frente, um envelope-branco, pois, não seria nenhuma tímida declaração de amor, tão-só a coima, pena ser um texto, se fosse oralmente usaria a peculiar pronúncia inerente aos monos, dia de semana, final de tarde, seriam uns seis ou sete carros, perante este grotesco cenário, uma questão regressou-me, já me assola há muito, confesso, como pode este povinho falar de liberdade?! Onde está a materialização deste conceito?! Não me vou alongar em considerações sobre o amaldiçoado dia de Abril do fatídico ano de setenta e quatro, não, não vale a pena, quem quiser a Verdade que a procure, desde então ser-me-ia fácil elencar as três bancarrotas, a marginalidade galopante, o dizimar das florestas (até entrou no léxico a “época dos incêndios”), Entre-os-Rios, Pedrógão-Grande, ex-presidiários à frente de autarquias ou pedófilos noutros lugares de relevo, enfim, o caos reina, fronteiras esboroadas, tudo entra, a segurança tornou-se uma utopia, o povinho vive num marasmo, alimentado a ansiolíticos, acrítico, analfabeto sem precedentes, agora até conseguiram que cada um compre a sua própria coleira na forma de um rectângulo, ficam a saber onde está, com quem fala, os seus gostos, convicções (se as tiver…), fraquezas, a janela da privacidade esfumou-se, porém, lá seguem inclinados para aquilo, quem diria que, num dado momento da história da humanidade, cada um iria comprar o seu cárcere? E numa altura em que a ciência tanto evoluiu! O homem e os seus paradoxos, também foi por estes dias que acenaram com o medo, sob a forma de um hipotético vírus, logo quase tudo, em pânico, a cobrir a boquinha e o nariz com um trapito, o meu espanto maior foi ver gente com estudos, alguns que até considerava inteligentes, a cair neste logro, dei por mim a concluir que, afinal, ainda não saímos das cavernas, de novo, Platão a caminhar a meu lado, em verdade, nunca o deixou de fazer, assisti (assisto ainda) a espectáculos do mais deprimente possível, com gentinha a besuntar as mãozinhas em álcool-gel, como se investidos de uma designação divina, o trapito omnipresente a cobrir do queixo até aos olhitos amedrontados, nalguns casos até foi positivo, a fealdade lá se ocultava, pois, afinal, ainda não saímos das cavernas, foi vê-los dentro dos carros com a focinheira, sozinhos na rua, a injectar dose atrás de dose da sopa-verde que lhes concedia o salvo-conduto do vírus-espinhoso, confesso o meu espanto pelo índice da estupidez humana no século XXI, quem arquitectou esse logro, cujo objectivo ainda se mantém, por enquanto, nebuloso, a não ser que se restrinja aos astronómicos lucros de farmacêuticas e respectivos laboratórios, conhece bem o índice da estupidez humana, caro leitor, pense comigo, se quisesse controlar um grupo de indivíduos, de forma gratuita, como fazê-lo? Pois é, pô-los a controlarem-se entre si! Daqui surgiu o tirano do “Politicamente Correcto” – com todas as suas derivações, até ao nível linguístico! Fica mal dizer isto, não se deve dizer aquilo, pensa-se, mas jamais se ousa verbalizar, usa-se como arma-de-arremesso caso se queira eliminar um concorrente em determinada área-social, tornámo-nos censor do outro, sem convite para tal, como pode este povinho falar de liberdade?! Onde está a materialização deste conceito?! Porém, todas as manifestações absurdas, com o cognome de “orgulho”, são potenciadas em nome da tal liberdade, é ver o desfile diário de aberrações, será que ninguém pára e questiona: “A quem interessa isto? Quem, de facto, promove este circo?” Há uns dezasseis anos, ouvi o relato de um conhecido, professor, que foi parar a uma escola num contexto-social razoável, ficou, desde logo, impressionado com a dentadura da directora dessa escola (antes denominavam-se presidentes do conselho-directivo, depois passou a conselho-executivo, por fim, o regime guindou-os a directores, na sua maioria não são mais que delegados deste funesto regime), uma figura-tétrica com uma dentição similar à de um Tubarão-Branco, ressalvo, desde já, acreditar piamente na sua descrição, denotou, desde logo, que o foco do processo ensino/aprendizagem se centrava no discente, algo se deteriorava, certa tarde, no final de uma reunião, foi interpelado por uma colega mais velha que lhe disse, numa voz suave: “Atenção: esta turma é constituída por filhos de gente muito importante…”, só pôde sorrir perante tal alarvidade, respondeu-lhe: “Gente importante é a que mora aqui!”, e apontou para o seu peito, ainda hoje, não sei porquê, creio que essa velha não tenha captado o real alcance das suas palavras, outra figura-tétrica que por ali deambulava era uma psicóloga-de-pacotilha, com uma anacrónica permanente do tempo das Doce, um focinho amargo que dava dó, cuja a única função era fomentar uma das premissas deste maldito regime: a destruição da família! Não por acaso, essa figura-tétrica já assistira à destruição do seu núcleo-familiar, desde suicídios a outras tragédias, daí manifestamente ser uma psicóloga-de-pacotilha, mas são, de facto, estas monstruosidades os agentes ideais do regime, como frustrados infelizes tudo farão para que os outros também não luzam, repito, isto foi-me relatado há dezasseis-anos, tirando o Tubarão-Branco que encostou de decrepitude, também nunca conheceu o alvor, o resto por ali continua, até uma gorda que, devido à psoríase, andava sempre de mangas-compridas, este relato fez-me questionar: “A quem interessa isto? Quem, de facto, promove este circo?” Felizmente as respostas não tardaram, embora, durante os anos de faculdade, tentassem, de forma sublimada, alertar-me para os factos, é sempre dolorosa a compreensão de que fomos enganados, por esta razão, a maioria nem intenta um esforço neste sentido, a balsâmica ilusão da mentira, de novo, Platão a caminhar a meu lado, em verdade, nunca o deixou de fazer, concluir que se é governado por uma seita-secreta (Quem, com um pingo de dignidade, entra numa seita-secreta que usa um avental? Cuja base está no vocábulo: trolha, do francês: maçon=pedreiro); cujo o único fito é a promoção do caos-social, dele se alimentam, nele se promovem, como um cancro; daí Salazar sabiamente os ter proibido e expropriado, não foi o único felizmente a tomar esta medida, “Mas a história é escrita por quem enterra os heróis”, assim reza uma frase medieva, e no amaldiçoado ano de setenta e quatro esta seita viu os seus bens imobiliários e não só serem-lhe devolvidos, confesso desconhecer se os aventais também foram confiscados, e aí estão à solta, a destruir insaciavelmente todo e qualquer Valor-Digno, daí a educação ser uma área tão importante, para formatar as já débeis mentes da juventude, alimentadas a álcool, fumos, telemóvel e festivais de Verão, assim são criados os tais programas das disciplinas, tudo embrulhado sob o espectro do “Politicamente-Correcto”, e eis o resultado: cidadãos acríticos, incapazes de descodificar quatro linhas, a defender escroques do piorio e a insultar vultos de uma nobreza ímpar; os trolhas, nestes últimos tempos, têm estendido os seus ataques à essência de uma nação: as suas história e língua; a invasão de anglicismos, mais concretamente americanismos, no dia-dia, já grassa o insuportável; repetindo-me: gente com estudos, alguns que até considerava inteligentes, a cair neste logro, dei por mim a concluir que, afinal, ainda não saímos das cavernas, de novo, Platão a caminhar a meu lado, em verdade, nunca o deixou de fazer, a concluir frases com pérolas assim: “… depois dá-me feed-back…”; e outras tantas que, por uma questão de decoro, me recuso a enunciar, a nobre história dos descobrimentos portugueses, por exemplo, tem vindo a ser denegrida por figuras-decadentes a soldo deste regime, os símbolos desta seita pululam por todo o lado, a maioria construídos à custa do erário-público, ninguém se insurge porque poucos se apercebem destes factos, “E a vista vai-se habituando…”, outro aspecto deste regime prende-se com as denominadas figuras-públicas, desconheço, na essência, este conceito, “Gente importante é a que mora aqui!”, e apontou ao seu peito, são colocadas precisamente para darem o seu contributo a este amaldiçoado ideário, nada mais, daí, a um olhar mais atento, vê-los a prestar, através de símbolos, vassalagem aos seus donos, como as mãozinhas-juntas a formar o “olho que tudo vê”, tão caro aos trolhas, ou pensam que lá estão por mérito? Da música à literatura, do cinema ao teatro? Não há filme ou série onde não haja, desde há uns tempos, um casal homossexual. Como se houvesse algum elementar orgulho nisso! E onde fica a privacidade de cada um? A sexualidade, por acaso, é uma bandeira para ser hasteada e jogada na cara do outro? Não, jamais irei por aí, o facto de gostar de mulheres só a mim diz respeito. Ainda no que concerne ao utópico horizonte da meritocracia, há uns anos, enviei um romance para uma editora, pensava eu, recebi como resposta uma questão: “Vem da parte de quem?” Laconicamente respondi: “Venho da minha parte!” Desde esse dia, nunca mais comprei um livro.

Pedro de Sá

(04/08/22)


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