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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Uma janela para qualquer coisa de bom



A primeira vez que ali entrei, pela mão dos meus pais, teria os meus sete ou oito anos, desde logo, fascinou-me a grandiosidade e a beleza do espaço, pude contemplá-lo demoradamente porque havia uma fila considerável, compreendi, pelas rasgadas janelas, um verde, lá fora, a relembrar-me aventuras em paragens longínquas, enredos de cinema ou banda-desenhada regressaram-me à vista de tão luxuriante paisagem, quando chegou a nossa vez, uma voz sussurrou-me (não me recordo se meu pai ou minha mãe), “Agora escolhes quatro variedades”, eu, atónito, a contemplar as múltiplas iguarias, algumas pela primeira vez, hesitante, renitente, a voz insistia: “Escolhe quatro variedades”, quase tacteando lá procedi à minha selecção, depositaram-me o prato no tabuleiro (não me recordo se meu pai ou minha mãe), seguiu-se a escolha da sobremesa, o meu olhar, não sei porquê, perdido numa iguaria verde, nunca vira um doce com tal coloração, com a exigida educação (sim, houve tempos em que a educação era um imperativo social) questionei que doce era aquele, responderam-me, sorridentes, mousse de abacate, de súbito, parecia estar noutro continente (mousse de abacate), a escolha estava feita, após o pagamento, a procura por uma mesa vazia, havia uma mesmo junto à grande janela que ilustrava um verde, lá fora, a relembrar-me aventuras em paragens longínquas, foi a primeira vez que ali entrei, teria os meus sete ou oito anos, mas uma certeza nasceu-me, ali estava meu lugar preferido para almoçar...

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