Ultimamente uma questão acompanha a
minha sombra: o que perdurará de mim quando partir? Volto do trabalho, ainda na
escada, percebo que a casa cheira a jantar, entro, cumprimento-a enquanto tiro
o casaco, começa, de imediato, a narrar-me as vicissitudes do seu dia, as
peripécias do bairro, finjo atenção e simultaneamente dirijo-me para a janela, acompanha-me
os passos e preenche-me os ouvidos até a um certo ponto, mais ou menos até à
mesa da televisão, que demarca a sala da marquise, aí chegados, não sei porquê,
regressa de imediato para as suas lides, enquanto eu, grato pela devolução do
silêncio, puxo de um cigarro e por ali fico, não a olhar este cenário extenuado,
mas à espera dos passos do pensar, nestes últimos tempos têm-me levado a um lugar lá
atrás, quando o agora apenas um sorriso confiante no rosto, talvez se lá
regressar volte a ostentar um sorriso confiante no rosto...
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