Livros

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domingo, 15 de outubro de 2017


"Bem sei que ele queria um filho que nadasse como Johnny Weissmuller. Investi largas centenas de piscinas na satisfação do seu desejo. Acompanhou cada passo da evolução aquática. Creio que, neste aspecto, não o desiludi. Nos verões de praia, ainda hoje desconfio, que ele sustinha a respiração cada vez que me lançava à água, e bracejava com estrépito rumo à heroicidade, como se nele estivesse contida toda uma plateia cinematográfica ansiando pelos feitos do seu herói.
 Mas aconteceu-me algo que acontece a todos os filhos: cresci. E este fenómeno não se dissocia do refinamento do espírito crítico. E é aí que olhamos os nossos progenitores, do alto das nossas convicções inabaláveis próprias da então desconhecida efemeridade da juventude, e os desvelamos na radiografia das suas fraquezas e iniquidades. E então pensamos: como querem estes ensinar-nos algo? Eles próprios nada aprenderam. Hoje, já não penso assim. Hoje já não tenho convicções tão profundas. Hoje, de modo muito particular, sinto falta do seu sorriso de luz. Tinha uma forma única de conciliar tudo à volta do seu sorriso. E esta é uma qualidade muito rara."
in "Crónica ao Johnny Weissmuller"


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