Há
palavras que fatalmente nos remetem para tempos e lugares, Verão é uma delas,
hoje, quando a ouço, limito-me a olhar para um tempo em que vivia o presente,
foi tão precoce este desaprender, não me recordo do momento, apenas do seu
carácter matinal na minha vida, lamento-o bastante, talvez por isso hoje queira
regressar a um tempo onde o passado estava à distância de um olhar e o futuro
apenas um sonho por sonhar, há felicidade maior que respirar o instante? A angústia,
assim sendo, não advém da ignorância, mas da consciência de tão precoce desaprender,
e a amarga compreensão da impossibilidade desse regressar, há quem o tente
através de retornos e recriações estéreis, não sei se chegam a entrever o
malogro dos seus esforços ou o ridículo do itinerário, embora, por estes dias,
ridículo seja um vocábulo em desuso, tal a proliferação da sua essência, mas
quando ouço Verão, limito-me a olhar para um tempo em que vivia o presente, e
para uma terra, de casinhas brancas, que contempla, a cada instante, o abraço
líquido entre rio e mar, a primeira vez que ali cheguei, familiarizava-me com
letras e números, lembro-me tão bem de ficar sentado, num muro branco, da falésia,
a olhar todo aquele azul à minha volta, a brisa quente relembrou-me outras
paragens, como se eu já tivesse sido outros, de repente, encontrava um Sentido
para as coisas (foi tão precoce este desaprender), algo tão raro, tão precioso,
íamos para lá em Setembro, daí ecoem na minha memória tantos entardeceres,
sempre vislumbrei em cada um o seu carácter irrepetível, no fundo, esse olhar
residia em mim e não à minha volta...
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