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sábado, 23 de março de 2019

Morrer é deixar de ser visto por aqui



Não diria que ele recebeu a notícia, diria antes ter recebido a confirmação, não a estranhou, manteve-se sereno, imperturbável, não, não creio que representasse, não havia necessidade de tal, nem tinha nada a provar, lágrimas só nos olhos do médico, bom sinal, muito bom mesmo, ainda vestígios de humanidade por ali, apenas uma questão (“Quanto tempo tenho?”), justa, devida, afinal, um direito seu (“Quanto tempo tenho?”), a resposta hesitante, tímida, envergonhada (“Uns meses…”), enquanto respondia olhava os sapatos, ele, pelo contrário, olhava-o de frente, quase em desafio, quando ouviu (“Uns meses…”), ficou algures entre o alívio e o terror, sentiu-se a caminhar na orla de um precipício…

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