Ele é assim, o que hei-de fazer? Muito metido consigo mesmo. Nem imagina
o que custa arrancar-lhe uma palavra! Eu sempre de verbo fácil, como sabe, o
Augusto também fala que se farta, sobretudo com os amigos, agora aquele miúdo… Não
sei a quem puxou! Mal chega da escola, enfia-se no quarto, e para ali fica, agarrado
a um livro, desses escritores estrangeiros com nomes pomposos, enfim, é
daquelas coisas complicadas e chatas, trá-los lá da escola, pois, nós não temos
dinheiro para esses luxos, onde já se viu, gastar dinheiro em livros… Deus me
livre! Há tanto onde gastar dinheiro e tempo! Agora, em livros! Realmente, não
sei a quem saiu! Mas, como lhe dizia, desde que chega da escola, para ali fica,
deitado, agarrado a um livro, às vezes, nem ouve quando o chamo (…)
Livros do Escritor
domingo, 31 de março de 2019
sábado, 30 de março de 2019
… retoma
o caminho, passeio fora, pensa se haverá alguém que saiba o porquê de tudo
isto, não, não lhe parece, uma frase atravessa-lhe o pensar vinda de fonte
incógnita (“Nada se irá alterar depois de mim…), uma verdade que o fez
resignar-se, esta ideia há muito se alojara em si (“Nada se irá alterar depois
de mim…), como se uma inevitabilidade, como se nada adicionasse ou subtraísse à
corrente dos dias…
in Morrer é deixar de ser visto por aqui
quarta-feira, 27 de março de 2019
segunda-feira, 25 de março de 2019
Ele era diferente! Havia nele, simultaneamente, uma
alegria contagiante e uma tristeza melancólica, tão estranho… Por vezes,
dava-lhe, subitamente, para revisitar lugares do passado, como se vivesse em
vários tempos, não sei se me faço entender… Talvez fosse o contrário, e
quisesse apenas trazer o ontem ao hoje.
in Harmonia
sábado, 23 de março de 2019
Morrer é deixar de ser visto por aqui
Não
diria que ele recebeu a notícia, diria antes ter recebido a confirmação, não a
estranhou, manteve-se sereno, imperturbável, não, não creio que representasse,
não havia necessidade de tal, nem tinha nada a provar, lágrimas só nos olhos
do médico, bom sinal, muito bom mesmo, ainda vestígios de humanidade por ali, apenas
uma questão (“Quanto tempo tenho?”), justa, devida, afinal, um direito seu (“Quanto
tempo tenho?”), a resposta hesitante, tímida, envergonhada (“Uns meses…”),
enquanto respondia olhava os sapatos, ele, pelo contrário, olhava-o de frente, quase
em desafio, quando ouviu (“Uns meses…”), ficou algures entre o alívio e o
terror, sentiu-se a caminhar na orla de um precipício…
quinta-feira, 21 de março de 2019
terça-feira, 19 de março de 2019
domingo, 17 de março de 2019
quinta-feira, 14 de março de 2019
segunda-feira, 11 de março de 2019
domingo, 10 de março de 2019
Almas dilaceradas
Se sou feliz…? Pois, bem, o que é isso de se ser feliz? É ter uma
família? Dinheiro? Casa? Carro? Objectos? Já agora, tão importante, saúde? Diga-me
você: o que é ser feliz? Sem teorias de pacotilha, escritas em compêndios,
algumas já com um sabor deveras bolorento, o que é ser feliz? Tem razão, eu é
que vim procurar a sua ajuda, e aqui estou, neste final de tarde, olhe, acho
que está a chover, vou só aqui à janela, sabe, sempre gostei de ver a chuva
atrás de uma janela, não sei porquê, acalma-me, fico melancólica, parece que
descem as alturas à terra para limpar todo o nosso mal, já reparou na
musicalidade da chuva a cair? É irrepetível! Cada uma tem a sua pauta. Curioso,
há coisas que ainda me chamam a atenção, já viu? (…)
quinta-feira, 7 de março de 2019
quarta-feira, 6 de março de 2019
sábado, 2 de março de 2019
Sonhos Inconclusos
Ele queria manifestar-lhe inequivocamente o seu amor,
assim, segue até à praia de sempre, pára o carro, sai de rompante, nem sente o
frio da hora, tal o calor do sentir, abre a porta do lado dela, estende-lhe a
mão, ela corresponde ao gesto, levanta-se com lentidão, como se em reticências de
timidez, essa leitura só o instiga mais, àquela hora uma chuva miudinha conferia
às coisas do mundo um carácter de irrealidade que apenas acentuava o facto de a
amar, os corpos fundem-se enquanto os lábios se descobrem (…)
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