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domingo, 10 de fevereiro de 2019

Todos os sonhos cumpriram-se, menos o sonho




A última vez que o vi? Bom, foi há umas semanas, fomos lá a casa, e, não sei porquê, achei-o ainda mais calado, à superfície apenas a circunstância, pouco mais, a minha cunhada sempre aquém desta realidade, com ela as palavras circunscreviam-se a bibelôs e cortinados, o mais ser-lhe-ia inconcebível, no fundo a vida é isto, dois estranhos a viver sob um tecto durante décadas, ele apercebeu-se do erro já tarde, demasiado tarde, acreditava no destino, e, durante muitos anos, aceitou-o, até deixar de o suportar, repare nisto: todos os seus actos foram de uma extraordinária lucidez! Não admito outras conjecturas acerca do seu comportamento! Nem tão pouco juízos de valor! Creio, sinceramente, que ele entrou numa espiral de desencanto, haverá coisa pior? Numa dolorosa lentidão, foi deixando, deixando, deixando, o exterior, para se refugiar em si, mas esse era, de facto, o lugar menos recomendável, os seus telefonemas tornaram-se esparsos, claro que, visto daqui, tudo se compreende melhor, infelizmente é sempre assim, não é verdade? A distância, pois, a distância, clarificadora, fria, indiferente, aqui chegados, o que nos resta? Reescrever a geografia de uma alma? Meu irmão já cá não está, de que adianta? Concordo, falar aquieta a dor, mas, por outro lado, penso, não sei porquê, para ele só havia um caminho, à luz do agora parece fazer sentido, não sei se me compreende…

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