Livros do Escritor
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
"E agora, minha filha? Sei que tiveste de ser sedada já
por duas vezes. Dizem que, por vezes, acontece. Não te preocupes, ainda não há
falatório. Ele, lá fora sentado, só está preocupado contigo. Agora, a mim
preocupa-me o inocente que ainda nem a mãe conhece. Vais alimentá-lo enquanto
conseguires. Chegou a altura de representares um papel deveras difícil. Depois,
alegas o que quiseres, que eu cuido dele. Não te esqueças: só se aprende ao
olhar para cima. Mas disto, és incapaz! Sabes, serás sempre infeliz, porque
viverás sempre contigo. Exactamente de onde foges a cada instante. Talvez seja
esse o bálsamo da morte: libertarmo-nos de nós."
in "Do outro lado do rio, há uma margem"
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
"Ela,
neste momento, a ver-se, ali, parada, numa imobilidade expectante, na margem da
estrada. A figura continua a cavar. Vestia um daqueles pares de calças que
ostentava a geografia do tempo, uma outrora branca camisa desabotoada, e na
cabeça pontificava uma boina que cheirava a sal e a terra. Raros são os
objectos que comportam estes odores: sal e terra: o sonho e a realidade."
in "Do outro lado do rio, há uma margem"
sábado, 16 de setembro de 2017
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
domingo, 10 de setembro de 2017
"E
era fácil aí perder-se, naquele labirinto de veias e sulcos. Imaginava os anos
que foram necessários à edificação daquele labirinto. As gerações que nele
trabalharam, o arrojo da construção, o esforço, as alegrias, as derrotas… Eram mãos com sabedoria, dizia para si,
enquanto as olhava. Como se esta qualidade pudesse ser aplicável a uma extensão
do corpo. De alguma forma, ele sabia que aquelas mãos eram sábias. Por vezes,
quando a velha se silenciava, as mãos exprimiam-se no seu lugar: Meu filho, meu filho, estou cansada, tão
cansada. Já não espero nada, e não há nada pior que isto."
in "Olhei para trás e sorri..."
terça-feira, 5 de setembro de 2017
"... nesse
momento, em que deixei definitivamente a tua mão pendurada a olhar o passeio,
percebi que teria de fazer as pazes comigo própria, afinal, teria de passar
mais tempo na minha companhia, se aprender a fazer isto, talvez aí, é possível
que sim, talvez não tenha de regressar à rua dos meus pais ao mesmo tempo que a
camioneta do lixo."
in "Há quanto não sei o azul do céu"
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