Livros

Livros

segunda-feira, 7 de agosto de 2017


"Trouxe consigo, no regresso, apenas o possível. Como há muito aprendera a fazer. Afinal, a maior jornada não era a ida ao supermercado, mas a odisseia mensal da sobrevivência. Havia, de facto, naquela cidade, e em muitas outras do país que a vira nascer, muitos milagres da multiplicação. E só um país onde há fome é pródigo em taumaturgos.
Ao chegar, não houve o canto da sua ave. Também ela se silenciara. Sobe as escadas num esforço indizível. A dor é sempre incomunicável. Mete a chave à porta, e o seu coração aquece-se. Ouve o som familiar de alguém que a espera. Em breve, estará aos saltos a seu lado, a pedir comida, a lamber-lhe as mãos na singularidade de uma ternura desmedida. Sim, é a sua única companhia. É quem se senta a seu lado a olhar as fotografias."

in "Com a idade aprende-se a dizer Adeus"

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.